Eu e Trimano, o mago do bico-de-pena, temos tomado porres homéricos aqui em Santa Teresa. Daqueles de escandalizar senhoras que se parecem irmãs de Machado de Assis. Começamos na bucólica praça da Paula Mattos, o lugar mais charmoso do bairro, ao lado da casa do Tri, onde o Bar das Meninas (as donas formam um casalzinho lindo) oferece o ambiente mais autêntico e tranqüilo para uma cerveja gelada e um papo cabeça – e terminamos no restaurante Sansushi, administrado pela japonesa Tisuko, mulher do Tri, que apenas tenta não atrapalhar – e mesmo assim não consegue (ele, não ela). Depois de mergulhar no sakê, meu companheiro fala apenas em espanhol, algo ininteligível, quase sempre vociferando contra os velhos caudilhos argentinos. Para falar a verdade, o Trimano nestas horas se parece mais com um ectoplasma. Não sei a opinião dele sobre mim, mas não deve ser muito diferente.
Ambos comungamos o desdém pela onda de conservadorismo e bons costumes que assola os politicamente corretos. É verdade que não fumamos mais cigarros caretas, tipo Minister ou Carlton, mas por pura determinação médica, que nos obriga a cuidar minimamente da saúde. Usamos da prerrogativa dos nossos 60 anos para, discretamente, andar pelas ruas fumando um baseado – com muito cuidado para não se expor às criancinhas. (Num país como este, a gente considera um absurdo sermos “fora da lei” – se é que você me entende?). De resto, estamos sempre querendo briga com os caras do governo, por exemplo, os políticos, e enaltecendo figuras como Pixinguinha. Quando quero, sou mais grosso do que joelho da Tarsila.
Toninho Vaz, de Santa Teresa