Dia sim, dia também

A partir de hoje, esta crônica passa a ser diária. Neste mesmo espaço, nesta mesma página, depois de sete anos publicada três vezes por semana. Dia sim, dia não.

Sexta-feira passada dividimos a mesa com Lúcia e Luiz Fernando Veríssimo, mais os cartunistas Chico e Paulo Caruso. Depois do jantar polaco no restaurante Durski, perguntei a Luiz Fernando sobre o quanto é difícil manter uma crônica diária.

— Não é fácil ter uma idéia por dia! respondeu o escritor, com aquele seu jeito tímido de sempre. Depois de décadas escrevendo diariamente para os principais jornais de circulação nacional, hoje Veríssimo publica apenas três crônicas por semana, afora os tantos livros que o fazem um dos autores mais lidos e festejados do Brasil.

Com exceção dos jornalistas políticos, hoje são poucos os que mantêm crônicas diárias nas páginas dos jornais. Também admirado por Luiz Fernando Veríssimo, um dos cronistas mais brilhantes da imprensa nacional é o catarinense Sérgio da Costa Ramos, que escreve “dia sim, dia também” no Diário Catarinense. Por felicidade, na semana passada estive em Florianópolis no lançamento de seu último livro de crônicas, A costela de Adão, quando o conheci pessoalmente. Ramos autografou o livro para “tout Floripa” num bar, e assim escreveu dois dias depois: “O próximo livro talvez deva lançá-lo… ao mar. Só para satisfazer aqueles que abjuram a crônica como bom e digno gênero literário, com vida e luz próprias”. Mas, afinal, “o que é uma crônica?” O cronista da ilha cita então Carlos Drummond de Andrade, certa vez criticado por uma crônica considerada frívola. “O mago de Itabira respondeu sem mágoa”, segundo SCR:

“De fato, tenho certa prática em frivoleiras matutinas, a serem consumidas com o primeiro café. Este café, o noticiário, costuma ser amargo, pois sobre ele desabam todas as aflições do mundo. É preciso que em meio à catadupa de desastres venha de roldão alguma coisa insignificante em si, mas que adquira significado pelo contraste com a monstruosidade dos desastres. Pode ser um pé de chinelo, uma pétala de flor, duas conchinhas da praia, o salto de um gafanhoto, uma caricatura, o rebolado de uma corista, o assobio do rapaz da lavanderia. Pode ser um verso, que não seja épico, uma citação, literária, que não seja pedante, pode ser tanta coisa!”

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Desenhista de origem, quem sou eu para dedilhar teorias sobre a crônica; até mesmo para enxergar nessas minhas esforçadas linhas alguma sombra de literatura. Sou jornalista! Comecei na cozinha do jornal e tive o privilégio de aprender o pouco que sei com amigos e mestres. Com Mussa José Assis aprendi tudo, e mais o principal: caráter! Não sei se guardei o suficiente. Manoel Carlos Karam me ensinou que até para fazer graça é preciso perseverança e disciplina. Com Francisco “Pancho” Camargo descobri que texto e desenho podem conviver na mesma pele da mão. E com Renato Schaitza observei que a palavra requer elegância, com precisas exceções.

Mestres dos mestres, Carlos Heitor já disse: na falta de uma ideia para a crônica, uma boa frase basta. O resto é a arte de encher lingüiça.

Então, chega de encher lingüiça. Até amanhã, se Deus quiser!

Dante Mendonça [04/12/2007]

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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