Foto de Sabine Righetti.
Hélio Leites é mais, bem mais do que um botão. Desimaginem os senhores, desimaginem completamente pois não há outro jeito de imaginar Hélio Leites. Com braço que vos leve a mão para que colha um gerânio no mais alto azul do céu; com olho que enxergue a orquestração do tico-tico; com mãos hábeis o bastante para tocar no coração de um peixe sem esfriar-lhe esta comoção sua para a vida; com gesto capaz de flagrar o sorriso que mora na dentadura dentro do dedal d’água, as artes de Hélio Leites sonham conosco um sonho minúsculo.
E é este convite ao útero do mínimo que vos pega surpreendidos e desengraçados, habituais que somos nas coisas grandes e desarranjadas. Gostaria de vos assistir, tarde da noite, tentando captar de que pressa ou vício a rútila pupila da corruíra que é só um ponto que nos convoca todos a traçar dela o desenho. E que se acrescente as palhas, o ninho, o ovo, a tarde, o céu inteiro e o fruto. Será sempre conosco o resto, o presto, o sobrevôo. Caixas, cofres, segredos.
Há a vida secreta das caixas, sempre haverá pulsante e quase uma insolência o que encerrado dentro delas, nos indaga de nossa clareza e pergunta, pergunta sempre pelas coisas que andam por aí, grandalhonas e visíveis – sem o encanto do que ainda está por ser revelado e vai fazer, ah, vai fazer o maior sucesso no centro da cidade.
De tal sorte e lastro, a arte deste papa pop do inutensílio, o enormíssimo vagau Hélio Leites, que nos sabendo passageiros, põe a gente entre o condutor e o motoneiro, mas que há de nos permitir sobretudo a liberdade, acima de qualquer tamanho, de imaginar como é que um assovio possa atravessar incólume ambos os orifícios de um botão sem ter o som desfigurado, embora a chuva, a poluição e os freqüentes acidentes de trânsito.
Wilson Bueno.
3 respostas a Os exageros do mínimo