O vendedor de nada

Algo aconteceu nas últimas 24 horas que mexeu com o meu mais íntimo mecanismo criador. A idéia espocou depois de algumas conversas com a minha filha Carol, responsável pela revelação de que existe no bairro da Glória, próximo à antiga casa de Pedro Nava, um camelô – também conhecido como ambulante ou trabalhador informal – que vende apenas aparelhos e objetos estragados. Ou quebrados. Ou inúteis. Nada funciona e custa quase nada.

Ele vende, por exemplo, apenas um pé de sapato – e garante que existe demanda para o produto, pois são muitas as pessoas que circulam sem uma perna pela cidade; ele vende ferro de passar que não esquenta, cafeteiras com o vidro trincado, baralhos faltando cartas…

O símbolo máximo da penúria nacional. Na Glória, centro do Rio de Janeiro. E o PROCOM não pode reclamar, pois ele (o vendedor) apresenta como primeira referência o próprio defeito. Sugere que o comprador use PARTES dos objetos ou que tente consertá-los, se for sua especialidade. Assim, uma retífica de motores bem que poderia se interessar por uma geladeira quebrada. Com preço abaixo da banana. Acho que encontrei o tema da minha próxima crônica (ou conto), ainda com um pé na realidade: O Vendedor de Nada ou Miudezas de Esperança, a biografia de um brasileiro em crise. Faço o registro neste blog como marco zero das minhas intenções autorais para o ano de 2009.

Toninho Vaz (que também fez a foto), de Santa Teresa.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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