Foto sem crédito.

Nem sempre os clichês induzem a pontos

de vista cegos, tampouco o lugar-comum torna
o raciocínio previsível ou o óbvio
não produz conclusões novas. A gente evita
formular a partir de fórmulas, achando que
não acharia achados. Nem sempre.

1.
Nem sempre o método afeta o feito: numa

só madrugada, Mary Shelley fez das tripas
coração, meteu os pés pelas mãos, deu passo
maior que as pernas e fritou os miolos.
O resultado foi uma obra-prima,
“Frankenstein”

2.
Nem sempre uma comparação acentua

diferenças: basta pensar na precariedade
do tratamento de águas e na desqualificação
de certas vinícolas para hesitar
no uso da expressão “Como da água para
o vinho”.

3.
Nem sempre o que é bom para EUA é ruím

para o Brasil: lá, a autonomia pele-vermelha
administra a jogatina em
suas reservas; aqui, o tutelamento restritivo
da Funai certamente acha que seria muito
cacife pra pouco índio.

4.
Nem sempre repressão é estagnação.

Sem as barragens das hidrelétricas,
a piracema seria mais fácil e os cardumes,
mais abundantes.
Mas aí a excitação dos peixes seria
igual à dos casais em férias conjugais nas
fontes termais.

5.
Nem sempre língua pra fora é sinal

de genialidade: amígdalas inflamadas
má-criação infantil e rigor mortis por
enforcamento também produzem exibições
do órgão fonador, sem importância relativa
para virar pôster.

Etc.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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