Sempre achei que, depois do pessoal da Semana de Arte Moderna, ninguém tinha feito literatura paulista como os cartunistas. Claro que apareceram bons autores escrevendo sobre a experiência paulista, mas, na minha opinião, ninguém retratava o seu desvario, com todo o escracho e a loucura aparecendo, como o Angeli, o Laerte e o Glauco nas suas tiras. Não tenho notícia de outro personagem no mundo dos quadrinhos – ou da literatura – parecido com o Geraldão do Glauco, equilibrando copos e seringas na incansável perseguição da sua tara pela própria mãe.
Como o Angeli, quando não estava subvertendo a moral e os bons costumes nas tiras, o Glauco também era um excelente chargista político. Como o Laerte, que está levando sua arte para zonas nunca antes exploradas, em quadrinhos ou fora deles, o Glauco também era um experimentador genial. É uma triste ironia que ele tenha sido uma vítima do desvario. Luis Fernando Verissimo/Zero Hora