O Sol já estava morrendo, mas seu último suspiro por sobre o horizonte foi para o Anatole: “Esse cara está com a corda no pescoço!” Anatole parou num portão e bateu palmas para pedir um copo d’água. Cortinas se mexendo, silêncio total lá dentro. Só um pensamento saiu da chaminé: “Esse cara está com a corda no pescoço!” A noite foi entrando em estrelas que piscavam azuis e geladas: “Esse cara está com a corda no pescoço!” Ao longe, na curva do caminho, a luz denunciava um armazém ou bar ou uma espelunca qualquer.
Anatole apressou o passo no escuro. Ouviu nitidamente de uma coruja o seu pio agourento: “Esse cara está com a corda no pescoço!” Um senhor de nome Adamastor, casado com a Judite, cruzou com Anatole já bem próximo do bar e, puxando a aba do chapéu para baixo, cumprimentou: “Esse cara está com a corda no pescoço!”
Anatole chegou logo ao bar, entrou e recebeu vários olhares que anunciavam: “Esse cara está com a corda no pescoço!” Sem se intimidar, foi até a mesa ao fundo, sentou e pediu um trago. Virou o primeiro, com careta. O segundo foi para rebater o primeiro. No sétimo pediu a conta. No ar pairava certa comoção que congelava a frase coletiva: “Esse cara está com a corda no pescoço!” Anatole pagou a conta, cambaleou para fora e, tropeçando feio na beirada da valeta, caiu de cara lá dentro e morreu afogado.
Rui Werneck de Capistrano é autor de Nem bobo Nem nada, romancélere de 150 capítulos.