As peraltices de um menino chamado Noel

No centenário de seu nascimento, Poeta da Vila ganha livro que narra a sua infância
Era dezembro de 1910. Em Vila Isabel, bairro arborizado do Rio de Janeiro, numa casa de classe média, nascia o primeiro filho de dona Martha e seu Neca. Logo viraria um garoto franzino, porém peralta, que liderava todas as travessuras da turma. Era o menor e o mais magro, mas corria como ninguém, e tinha resposta para tudo na ponta da língua. Entre uma brincadeira e outra, adorava os filmes americanos e as aventuras do Tarzan. Porque nascera perto do Natal, ganhou o nome de Noel. Aquele que, poucos anos depois, viraria um dos maiores compositores que o Brasil já conheceu, autor de clássicos sambas como “Palpite infeliz” e “Com que roupa?”.
Noel – o menino da Vila conta histórias do músico Noel Rosa sob um ângulo inusitado – o de sua meninice – e para um público diferente – os meninos e meninas do século 21.
Por ser uma biografia romanceada, focada na infância do poeta, o livro dos irmãos Marcia e Clóvis Bulcão reconta, de um jeito lúdico, próprio para atrair a atenção da garotada, os fatos verídicos da sua vida. Passeia por seus anos no Colégio São Bento, nos quais o garoto cabulava aula para passear pelo Rio de Janeiro; por seu fascínio pelo piano, instrumento proibido que iluminava a sala de casa; pela descoberta da loja O Cavaquinho de Ouro, na Uruguaiana, que passou a ser um dos seus lugares preferidos na cidade; e pelo Carnaval de Vila Isabel – “o melhor do mundo”! –, dividido nos blocos Cara de Vaca e Faz Vergonha (Noel preferia este último, apesar dos apelos da mãe).
“Muitos já escreveram sobre o Poeta da Vila, mas ninguém teve a ideia de criar uma obra sobre ele para a petizada e se ater, prioritariamente, no seu tempo moleque, relatando com graça as suas peraltices” elogia o sambista Martinho da Vila, na orelha do livro. Nesta homenagem ao centenário de nascimento do poeta, as peripécias de sua infância ganham alegres ilustrações de Iara Teixeira, coloridíssimas. E os versos do músico, imortalizados em canções que até hoje alegram a boemia carioca, aparecem aqui e acolá, no discurso do narrador – espécie de piscadela cúmplice da dupla de autores, bem ao espírito brincalhão de Noel.
Noel – o menino da Vila, porém, não é só a descrição do lado mais solar deste poeta que morreu tão jovem, e que carrega em sua história adulta a face sombria da doença e da pobreza.  É também uma deliciosa viagem pelo Rio de Janeiro do  começo do século passado, com seus modismos, suas festas e seus músicos geniais. Gente como Cartola e Francisco Alves, reis do cancioneiro que também emprestam um pouco de bossa a essa história tão musical, dando o ar de sua graça em um dos capítulos. Ao fim da narrativa, aliás, há uma cronologia da vida do poeta e um conjunto de letras cifradas, com algumas das mais importantes composições do sambista. Impossível fechar o livro e não sair por aí cantarolando.
Trecho
Como muitos meninos, Noel cresceu saboreando todas as delícias de Vila Isabel. Era livre para brincar na rua, empinar pipa, jogar botão, pegar o bonde andando e, em junho, sempre soltava balão. Adorava subir na Pedreira do Simões e lá do alto gritar para o mundo:
– Ale-lê-oooo.
Apesar de ser o menor e o mais magro da turma, Noel sempre liderava os amigos na hora das brincadeiras. Corria de vento em popa, pulando como sapo, escapando até de praga de urubu. E quando implicavam com seu tipo físico mirradinho, rebatia achando graça:
– Quem foi que disse que eu era forte? Nunca pratiquei esporte.
Mas não era só por ser magrinho que o provocavam. Como tinha o queixo muito pra dentro, acabou ficando conhecido na Vila por Queixinho.
Autores
Marcia Bulcão nasceu em 1963, no Rio de Janeiro. É cantora e atriz. Começou a cantar profissionalmente em 1982, na banda Blitz. Formada pela UNIRIO é professora de música. Agora se lança no projeto “Noel, o menino da Vila” em parceria com seu irmão Clóvis Bulcão. Ele, também professor de história formado pela PUC-RJ, é autor de Leopoldina – a princesa do Brasil e da biografia do padre Antonio Vieira.
Ilustradora:
Iara Teixeira é artista plástica curitibana. Tem, no currículo, vários livros infantis ilustrados.
Título: Noel – O menino da Vila. Autor: Clóvis Bulcão e Marcia Bulcão. Público-alvo: a partir de 8 anos. Ilustradora: Iara Teixeira. Páginas: 64.ISBN: 978-85-63248-16-0. Preço: R$ 29,00 Formato: 17x24cm. Escrita Fina de edições. Laura van Boekel – Coordenação Editorial. Telefones 21 2221-3082 e 21 9442-2622.
Breve, lançamento no Restaurante Original Beto Batata.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Sem categoria. Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

12 respostas a As peraltices de um menino chamado Noel

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.