Nunca se deve estar preparado pra um koan. Ou, um koan nunca deve preparar ninguém. No máximo, deve dar uma pancadinha na cabeça da gente e atordoar. De leve. Talvez só muito depois essa pancada cause efeito e produza um galo de sabedoria. Só às vezes produz a iluminação imediata do ambiente.
Koan é uma palavra japonesa de origem chinesa. Diz-se que significava ‘arquivo de documentos’, mas migrou pra um lugar mais confortável e virou um tipo de enigma ou ginástica mental pra deleitar discípulos dos monges. Seria muito parecido com o insight da atualidade.
Não se sabe se os monges (mestres) faziam de propósito pra se safar das perguntas impertinentes dos discípulos. O fato é que a leitura de perguntas sérias com respostas absurdas nos faz querer mais.
A resposta torta pra uma pergunta muito reta faz o cérebro dar uma pirueta e remexer os neurônios. Funciona, mais ou menos, como uma cheirada num lenço com lança-perfume. Só que sem as más consequências físicas.
Existem muitos exemplos clássicos, mas eu resolvi mostrar um — entre muitos — que escrevi há algum tempo. Nem sabia que o nome disso era koan. Claro que não é aquela obra-prima dos monges e outros sábios da antiguidade, mas tem alguma serventia. Toma lá:
O mestre estava suado e exausto de tanto revirar a terra do jardim pra fazer novos arranjos de folhagens. O discípulo, que havia chegado sem ser notado, aproveitando uma pausa no serviço, falou:
— Mestre, dá gosto ver você fazendo um trabalho com tanta dedicação. O que teria a me dizer sobre a motivação humana?
— Você pode ir até a sua casa e me trazer um copo d’água gelado?
— Mas, mestre…
— Pois é… eu nada sei sobre motivação humana.
Um koan muito interessante, de um jogador de beisebol norte-americano, é de fazer rir. Numa pizzaria, quando o garçom perguntou se devia cortar a pizza em quatro ou oito pedaços, ele respondeu: — Quatro. Acho que não consigo comer oito pedaços.
No Brasil, Dadá Maravilha era muito bom nisso. Quando perguntaram pra qual era a problemática do futebol, ele respondeu: — Eu não conheço a problemática. Eu tenho a solucionática.