Os Viaros

Constantino Viaro, filho do artista italiano Guido Viaro (1897 –1971), inaugura até o fim do ano um espaço para guardar e divulgar a obra do pai.

Diante da falta de iniciativas públicas que valorizem o legado deixado por estes que – cada um ao seu modo – figuram entre os mais representativos artistas do estado, foi preciso que os herdeiros pusessem a mão no bolso para proporcionar aos acervos a visibilidade que merecem.

Com recursos próprios e a ajuda dos três filhos, que rasparam suas poupanças, Constantino Viaro comprou e está reformando o casarão de 1930, à Rua XV de Novembro, 544, que abrigará o acervo de 300 óleos sobre tela, 700 desenhos e 300 gravuras da coleção familiar. Além destas obras, o filho do artista ítalo-brasileiro Quirino Campofiorito (1902 – 1993) doará 45 gravuras de Viaro que pertenciam ao pai.

O acervo de Constantino era o cerne do antigo Museu Guido Viaro, inaugurado em março de 1975 e fechado durante a administração de Rafael Greca. “Havia um abandono total. Roubaram 40 desenhos, o local não tinha desumidificador, chovia dentro. Então, retirei os quadros e levei pra casa”, conta o filho do artista. Desde então, não recebeu nenhuma proposta, seja do governo municipal ou estadual, para reabrir o museu ou criar um novo espaço. Chegou a cogitar vender o acervo
. “Recebi propostas de uma galeria norte-americana e de industriais europeus que pretendiam levar a obra de meu pai de volta à Itália (Guido Viaro nasceu em Badia Polesine, província de Rovigo, no Vêneto).”

Os filhos convenceram-no a criar um espaço próprio para as obras. Iniciada no início deste ano, a reforma atrasou por conta de inúmeros entraves burocráticos com a prefeitura e o corpo de bombeiros. Mas Constantino pretende abrir a casa até o fim deste ano, possivelmente com o nome de
Centro Cultural Guido Viaro.

Os 600 metros quadrados do prédio, que antes abrigava seis apartamentos, comportarão espaço para exposição nos dois andares, auditório, terraço e um sala de reserva técnica climatizada. O acervo será exibido no segundo andar – com acesso por uma escadaria original, restaurada, e um elevador de vidro transparente para idosos e cadeirantes. “Como são muitas obras, faremos exposições alternadas, com o apoio de curadores convidados”, explica.

Estarão em exibição permanente o documentário sobre a atrajetória do artista, feito pelo neto Túlio Viaro, e um CD com 1,1 mil obras catalogadas e fotografadas por Juliano Sandrini.

No térreo, os painéis removíveis pendurados no teto abrigarão mostras de outros artistas. O espaço também comportará uma loja para venda de souvenirs, gravuras e livros. “Dalton Trevisan já disse que vai pôr seus livros ali”, diz Constantino.

O projeto de iluminação recebe os palpites de Beto Bruel, que também sugeriu a criação de um pequeno palco para abrigar peças de câmara e pequenos shows musicais. Proposta já aceita, diga-se de passagem.

No quintal, um café com administração terceirizada será, com a loja, fonte de renda para o espaço. Constantino também pretende arrecadar fundos com a criação de um estacionamento em um dos dois terrenos que adquiriu ao redor do casarão. No outro, planeja um espaço para ofertar cursos que tenham como ponto em comum o desenho como linguagem.

“Acho que a criação de espaços privados como este e o de Poty, por exemplo, são um caminho que serve, inclusive, para abrir os olhos do poder público. Será um sacrifício, mas estamos fazendo e vai valer a pena”, diz o herdeiro do acervo de Viaro.

Enviado por Leila Pugnaloni.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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