Soruda-san, fumando, espera.
SÃO PAULO – O que é mais difícil, parar de fumar ou fazer um filme? Para a diretora carioca Adriana Dutra, que por duas décadas de sua vida fumou dois maços de cigarro por dia, deixar o vício não foi fácil. De sua batalha pessoal, nasceu o documentário “Fumando espero”, que estréia na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e chega aos cinemas de todo o Brasil em 13 de março. Foram quatro anos de pesquisas, entrevistas, filmagens, tratamentos e tentativas para deixar de fumar.
— Comecei as filmagens fumando. Parei à meia-noite de 31 de dezembro de 2006 para 2007. Recaí em setembro e voltei a parar no réveillon de 2007 para 2008. Voltei a fumar em maio e parei em agosto de 2008, espero que de vez – conta Adriana, lembrando que as recaídas fazem parte do processo.
— Comecei as filmagens fumando. Parei à meia-noite de 31 de dezembro de 2006 para 2007. Recaí em setembro e voltei a parar no réveillon de 2007 para 2008. Voltei a fumar em maio e parei em agosto de 2008, espero que de vez – conta Adriana, lembrando que as recaídas fazem parte do processo.
— Patrocinadores do filme que me encontraram fumando chegaram a dizer que eu devia fumar escondida. Mas não estou levantando bandeiras. Quis fazer uma reflexão sobre o tabagismo. Daí a idéia de me emprestar para o filme, que me proporcionou um entendimento muito grande da questão.
Mas o documentário é muito mais que a luta de Adriana para deixar o cigarro. É também a história de fumantes convictos, ex-fumantes saudosos, ex-fumantes intolerantes, pessoas que, assim como Adriana, tentam se libertar do vício mais difundido do século XX e XXI: médicos, ativistas, publicitários, agricultores que plantam fumo são quase escravos de uma das indústrias que mais lucra no mundo.
— Um documentário é denúncia, informação, mas é também entretenimento. O filme é sério, mas fiz questão de colocar humor como contraponto, para que fosse digerível “
— O documentário pode funcionar como um despertar de consciência para quem ama, já amou ou odeia o cigarro. Faço uma volta de 360º no assunto para fazer uma reflexão e mostrar a realidade, em que há muita manipulação, fraude, escravidão para quem planta. Mantenho um distanciamento, ao mesmo tempo em que faço com que o espectador se identifique com a história por meio dos personagens que apresentam todos os segmentos: dependência, prazer, tratamento, fraudes contra a saúde pública. Não dá para tomar partido, mas a verdade é barra pesada. O filme termina com o suicídio, a morte para quem planta o fumo – conclui Adriana.
Apesar dos momentos difíceis, o filme é recheado com muito humor, um traço marcante da personalidade da diretora. Os depoimentos do ex-fumante Ney Latorraca, a própria experiência de Adriana, as animações que apresentam dados sobre o tabagismo no Brasil e no mundo, aliviam as denúncias de exploração dos agricultores no sul do Brasil, os maiores exportadores de fumo do mundo, mas são escravos das multinacionais que produzem cigarros; o descaso da Justiça em relação às ações indenizatórias movidas contra a indústria tabagista; o marketing disfarçado feito pelas empresas de cigarro, que atinge crianças e adolescentes em pontos-de-venda e o engodo dos cigarros light.
— Um documentário é denúncia, informação, mas é também entretenimento. O filme é sério, mas fiz questão de colocar humor como contraponto, para que fosse digerível.
Adriana agora se dedica a finalizar o roteiro de um longa de ficção, “Quadrilha caseira”, que ela pretende começar a filmar em 2010, sobre corrupção de profissionais liberais em condomínios luxo. O próximo projeto de documentário deve seguir os moldes de “Fumando espero” e vai falar de obesidade. Adriana já começou as pesquisas.
Mostra – “Fumando espero” – Quinta-feira, dia 23 de outubro, às 19h50, no Unibanco Arteplex 4. A partir de 13 de março, em cartaz no circuito comercial.
21/10/20008 – O GLOBO.