A ombrear-se com Waly nas disturbações do século recém-findo, cá no patropi dos bregas-urbanos, uma gente, com raras e altas exceções, mediocrizada ao abrigo acadêmico, só vejo o muito nosso Paulo Pauleira Leminski. Que morreu deixando dentro de uma mala (vazia) um estilingue. O resto foi a sua quase psicótica doação à literatura. Waly não tivesse morrido precocemente talvez acabasse cooptado pelo chamado sistema. Pode que sim; pode que não… A morte, contudo, cruel ironia, o salvou em definitivo de não ser Waly Salomão. Bocudo, inquieto, doido, irreverente, para o poeta genial de Algaravias, escrever era, antes de tudo, escandalizar.
Pela palavra nova, pelo discurso desabusado, na contra-corrente dos mauricinhos de plantão. E a vida, um teatro total. Lembro de nós, uma viagem a Araruama, litoral fluminense. Juba, batom, tamancas, brinco, o porre de um tonel. Juntou gente na rodoviária na madrugada que ali passamos a declamar Gregório de Mattos. Saracoteando.
Não precisa dizer que acabamos na delegacia mais próxima, num flagrante de vadiagem. Era comum a abordagem policial. Nunca esqueço: 1972, saindo de um show anterior aos Dzi-Croquetes, no Teatro Opinião, os canas nos encostaram à parede. Documento! Waly que acabara de lançar (literalmente!) várias cópias de Me segura qu’eu vou dar um troço em cima da platéia do teatro, ainda tinha um exemplar nas mãos. Mostrou o livro.Os tiras viraram e reviraram o livro nas mãos. Waly disse que não tinha documento mas podiam conferir, ele era o autor daquele livro ali. E você? -grunhiu outro tira, para mim. Waly foi mais rápido que o meu medo: Esse aqui, “sinhor dététive”, me ajuda nos versos… Não vi Pan-cinema permanente e já gostei. Cine, teatro, performance, não importa, Waly era um passarinho trêfego. Isso é o que interessa. Como ele mesmo dizia, ao me flagrar, alguma vez, em lágrimas: a diferença,
Bueno, é que a gente tem asas…
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