Millôr Fernandes, em maio de 1973, celebrou o número 200 d’ O Pasquim dizendo que “só mesmo o denodo e o estoicismo de uma plêiade de jornalistas imbatíveis no cumprimento do seu dever seria capaz de atravessar tantos obstáculos”. Ironia do mestre à parte, eu acho que foi isso mesmo.O jornal foi um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro. Isso se deve em grande parte porque O Pasquim conseguiu aglutinar, em nome de uma guerra santa contra as trevas, quase todos os melhores jornalistas brasileiros da época – entre os quais Jaguar e Sérgio Augusto, responsáveis por esta antologia. O volume II desta saga jornalística vai de 1972 a 1973, em pleno governo do general Emílio Garrastazu Médici, quando a economia crescia em ritimo chinês de hoje, e a liberdade era abafada à bala, tortura e censura.
Foi um país sufocado pela repressão sem limites do AI-5 que surgiu O Pasquim, em junho de 1969. O hebdomadário, parta usar uma palavra tão ao gosto da patota de coleguinhas, foi como uma mosca da canção de Raul Seixas e Paulo Coelho, que pousou na sopa da ditadura, perturbou o seu sono e ficou a zumbizar.Mas a caserna não tolerou aquele zumbido. Tanto que os milicos prenderam quase toda a redação do jornal em novembro de 1970. O jornal continuou saindo graças a alguns intelectuais da pesada que ocuparam o espaço dos presos.O jornal foi revolucionário não só na crítica política ou de costumes.
Ele renovou a linguagem jornalística. Numa época em que o texto dos jornais era muito rebuscado, O Pasquim escrevia como se falava, num estilo pessoal, coloquial e safadinho até. Ou, como diz o Jaguar: “ele tirou o paletó e a gravata do jornalismo brasileiro”. Até o seu formato tablóide hoje está na moda e é apontado por especialistas da mídia como o futuro dos jornais. Por tudo isso, bem vindo ao melhor do humor em tempos de cólera.
Ancelmo Gois