Quadrinista inovou no modo de narrar HQ

Foto de Raquel Santana.

Como um samurai saído dos filmes de Akira Kurosawa, Claudio Seto era um respeitável senhor monossilábico. Marcial, comandava seus desenhistas e roteiristas apenas com sorrisos. O problema era decifrar cada um deles. “Você tinha que interpretar se o sorriso era de aprovação ou de reprovação”, lembra o quadrinista e editor Franco de Rosa, que trabalhou com Seto em Curitiba nos anos 70 e 80. “Ele comandava sem comandar, apenas com gestos sutis.”

O estúdio de Seto na editora curitibana Grafipar foi responsável por reunir nomes que seriam importantes para a HQ brasileira, como Mozart Couto e Watson Portela, além de Rosa. Os gibis eram divididos por gêneros: sertão, pampas, eróticos, terror, ficção científica ou policial. Chegaram, segundo o historiador de HQs Gonçalo Júnior, a vender até 5 milhões de exemplares por mês.

Segundo Franco de Rosa, as inovações de Claudio Seto foram muitas. A mais marcante é a narrativa fragmentada (muito usada em “Lobo Solitário” e por Frank Miller): um quadrinho mostra a ponta da espada; outro, o rosto do samurai; um terceiro, a expressão do oponente; e por aí vai, uma página inteira sem texto, apenas desenhos a contar a história.

A quadrinização é inovadora, com quadrinhos verticalizados ou horizontalizados ao extremo. Às vezes, Seto desenhava em cima de fotografias, criando um clima soturno. E as primeiras páginas eram sempre exuberantes, com o título desenhado como se fosse uma montanha, por exemplo. “Foram inovações recebidas com chacotas por muitos colegas”, diz Rosa.

Em 1970, os japoneses Kazuo Koike e Goseki Kojima lançaram “Lobo Solitário”, sobre um samurai que vagava pelo Japão empurrando um carrinho com seu filho bebê. Traduzido para o inglês nos anos 80 e lançado nos Estados Unidos com capas de Frank Miller, foi um enorme sucesso. E muita gente hoje acredita que Seto copiava as histórias de Koike e os desenhos de Kojima, tamanha a semelhança. “Mas isso não é verdade. Seto começou antes, em 1967“, diz Júnior. As quitandas do interior de São Paulo, afinal, vendiam diversos produtos importados do Japão, como saquê, peixe seco e… mangás, que serviram de fonte para todos. E nunca largou o hábito, conforme lembra Franco de Rosa. “Na casa dele, havia um quarto só de gibis, amontoados, aos milhares, no chão.

Ele me mostrou e disse: “Meu sonho era ter uma caixa forte igual à do Tio Patinhas, que nadava nas moedas”. Então mergulhou na montanha de gibis como se fosse uma piscina. E ficou lá nadando, sorrindo para mim.” (IF)

Folha Online

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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