A ONU, que não resolve nem as pendengas lá no quintal derla, recomenda a vários países o programa Justiça Restaurativa: a idéia é que as vítimas de assaltos, estupros e outras violências se reencontrem com seus agressores pra ver se a raiva, o sentimento de impotência, o desejo de vingança ou a culpa sejam amenizados. Na tentativa de diminuir as reincidências, vale tudo no frente a frente no presídio pra conscientizar o criminoso – menos beijo de língua, acho.

Como a intenção é boa e perdões têm acontecido, não dá pra dizer que a reúna apaziguadora não funciona. Pelo menos ocorre, aqui e ali, maneirada na ferina lei de Talião. Quem sabe tal medida não ajudaria também outros contendores de outras circunstâncias? Imaginemos:

Eleitor e político
O que votou senta diante do votado e desfia na cara dele o rosário de promessas feitas e desembrulha a frustração do eleitorado, inclusive com os prejuízos sociais e sequelas institucionais. Quanta decepção jogada no colo seria necessária para regenerar um deputado, um senador, um prefeito, um governador?

Marido e mulher
Os criminosos, quer dizer, os cônjuges, iriam para um campo neutro – qualquer lugar fora de casa – cada um por sua vez apontaria algo no algoz. Se ninguém morresse no confronto, voltariam pra casa até que a morte os separasse. A vantagem dessa junta conciliadora caseira é a ausência do mediador, o custo menor e o direito aos tacapes.

Consumidor e fabricante
O cliente teria direito de levar todas as embalagens que não conseguiu abrir e tudo que a validade de produtos não validou, além do rol de anos de inútil queixume aos SACs da vida. O fabricante levaria sua disposição a um diálogo sincero, se é que isso existe.

Aluno e professor
O primeiro exibiria suas próprias deficiências, as marcas profundas que o ensino deixou na sua mente. O segundo poderia mostrar seus parcos contra-cheques. Seriam permitidos lágrimas e abraços dessas duas vítimas do sistema educacional brasileiro, do qual nenhum representante compareceria ao encontro.

Telespectador e emissora
Os dois tipos de idiotas – o que produz asneiras e o que assiste imbecilidades – sentariam frente a frente, com microfones na lapela, num auditório cheio e claques de parte a parte. Como a possibilidade de entendimento inexiste, o esforço de conciliação iria ao ar na grade de humorísticos do canal, com óbvios picos de audiência.

ONU e países
Construiriam uma sede para assembléias, onde, num imenso plenário, fariam propostas pela paz mundial e… Peraí, Fraga, isso já existe desde 1945 e o mundo só piorou de lá pra cá!

Bom, não se deve esquecer do último e brutal recurso para se resolver quaisquer espécies de antagonismos. Duelos com plumas.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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