Foto sem crédito.
No último dia 14 de maio Curitiba sumiu mais um pouco. Sumiram lambrequins de uma casa de polaco. Sumiram dez balas Zequinha, dois chineques e uma gasosa de gengibirra. Desapareceram duas putas da Riachuelo e uma da Cruz Machado. Evaporaram dois chopps bola e um pernil com verde do bar Mignon. Sumiu também uma travessa de bucho à milanesa lá do bar do Edmundo.
Uma porção de testículos de boi do Stuart e dez mil petit-pavês da calçada da XV. Sumiram duas bambolinas do Guairinha, um spot de 500 watts do Teatro Paiol e uma camisa do Ferroviário Esporte Clube. Caiu, também neste último 14 de maio, um dente do Dalton Trevisan e um fio de cabelo prateado da Helena Kolody. Sumiu até um pouco do sotaque de muita gente.Todas essas coisas sumiram, assim, sem mais e nem menos, de repente, num upa!
O responsável por esses sumiços todos nesta nossa velha cidade “Trecentina”, que pouco a pouco desaparece, foi um piá pançudo lá do bairro do Portão, que cresceu aqui e virou um grande ator – desses em que o talento transborda, do tipo que já estava careca de saber tudo sobre Curitiba – desses que, de vez em quando, cruzam o Atuba pra mostrar que aqui tem gente boa, que só! – Mário Schoemberger – ator, autor e diretor de teatro de Curitiba – pegou o boné, esticou as canelas e foi-se embora! Levou com ele, no bolso do casaco, um retrato de uma Curitiba que, a cada dia, fica mais invisível. Levou também um litro e meio de lágrimas dos seus amigos que ficaram aqui.
Enéas Lour – Julho/2008