
Texto que mescla espanhol, português e guarani, “Mar paraguayo” não conta, mas é, em si, a história da protagonista sem nome, “la marafona del balneário de Guaratuba”. Numa ficção propícia a dúvidas e ambigüidades, a narrativa se dá não numa seqüência de fatos apresentados cronologicamente, mas na memória desorganizada na mente da personagem, de acordo com critérios emotivos e sensoriais.
“Mar Paraguayo”, segundo o curador do Outras Leituras, o professor e poeta Mário Domingues, apesar do caldo de línguas em que foi escrito, “é um exercício de linguagem que não esbarra na burocracia da gramática”. Isso porque, na opinião dele, “onde não há burocracia, há arte e diversão”, que estão presentes tanto no jogo lingüístico quanto no universo kitsch da meretriz, com seus trançados de tesões, dolores e boleros-canciones. O tricô que ela faz também é uma alegoria para a teia em que sua vida está transformada, dividida entre um homem mais velho e o amante moço.
Mistura de culturas
De acordo com a diretora Nadja Naira, a preocupação na leitura, que será feita pela atriz Silvia Monteiro, é tornar o texto compreensível para o público. “Mar Paraguayo é uma viagem nessa nova linguagem inventada pelo Wilson. O jogo de palavras construído pelo escritor ao misturar três línguas é difícil, mas ao mesmo tempo é carregado de sonoridade e poesia. E o fato de ser apresentado por uma atriz com sotaque paranaense, certamente vai transformar a leitura numa mistura cultural das mais interessantes”, destaca a diretora.
Mário Domingues conta que uma vez Wilson Bueno lhe disse que “Clarice (Lispector) e (Guimarães) Rosa são (os) dois grandes momentos da prosa brasileira”. Neste sentido, para curador do Outras Leituras, “Mar Paraguayo” é um acerto de contas, em que a influência é ponto de partida para uma criação mais individual. “Há um dedo de Lispector na mestria com que Bueno cria o fluxo de consciência da personagem, com seus diálogos interiores, em seu existencialismo libertário, em sua crença na incomunicabilidade linear das palavras”. E Rosa “também dá o ar da graça na liberdade da invenção lingüística”, completa.
Nascido em Jaguapitã, Wilson Bueno viveu, ainda jovem ,a fria e efervescente Curitiba dos anos 70, atuando como jornalista. Seguiu depois para o Rio de Janeiro, escrevendo para jornais e tablóides culturais. Estreou como escritor com o livro “Bolero´s Bar”, em 1985. Em 1991, publicou o “Manual de Zoofilia”. Poeta e cronista, Bueno tem no currículo literário a criação e direção do premiado tablóide Nicolau, que é considerado uma das melhores publicações culturais no Brasil recente. Para Mário Domingues, “Bueno é a única novidade na prosa brasileira depois de Rduan Nassar”.
Serviço:
Espetáculo: “Outras Leituras”, com fragmento do livro “Mar Paraguayo” de Wilson Bueno. Local: Teatro da Caixa – Data: 02/09/2008 (Terça-feira) – Horário: 20 horas Endereço – Teatro da Caixa – R. Conselheiro Laurindo, 280 – Edifício Sede II Recepção: 2118-5111 – Ingresso: um livro não-didático – Lotação máxima do teatro: 123 lugares