Elas são escolhidas tradicionalmente por um sacerdote ligado à monarquia do Nepal e costumam ter entre 6 e 7 anos. Como manda a tradição secular, deixarão de ser deusas quando menstruar pela primeira vez. Ou sangrar de outra maneira, através de ferimentos casuais domésticos ou similares. Por esta razão a menina-deusa vive constantemente cercada de devotos e serviçais que a protegem e adulam durante os intermináveis dias do seu reinado. Vive deitada em almofadas de seda e não pode brincar e nem correr, pois qualquer acidente poderá afastá-la prematuramente da condição de divindade – pois a única a forma natural de perdê-la é menstruando. Assim, depois dela, outra kumari será escolhida. Enquanto isso, a família – quase sempre de origem pobre – se locupleta morando no castelo com todas as mordomias.
Simples e volátil como um conto de fadas.Qual novidade? É que este ano a escolha da kumari aconteceu de forma agressiva, rompendo com a tradição. Pela primeira vez a deusa foi indicada pelo governo maoísta, de ideologia atéia, consolidando o fim do governo de Gyanendra, destronado em maio deste ano. É o fim da tradição. Talvez seja isso que alguns chamam de fim do mundo.
Toninho Vaz, de Santa Teresa.