Nada como mais um verão, férias, praias, e principalmente novo Carnaval, que aí se aproxima, para devassar, a gregos e baianos, a nudez nossa, muita vez precária. Nos balneários por onde andei em janeiro, a exposição coletiva de carnes seminuas foi um festival, senhores, entre a tragédia e o deslumbramento.

Não adianta: o tempo não perdoa, gentil leitor. Ao mesmo tempo em que a juventude passeava o espetáculo de sua vitalidade, em sungas sumárias e biquínis mais sumários ainda, a exposição de grotescas barrigas, murchos tórax (me recuso a usar o plural “tóraces”…), finas canelas e coxas pipocadas de celulite, me lembrava, a toda hora, do implacável “Senectude”, de Ítalo Svevo (1861-1928).

O gênio italiano ao realizar a memória de sua vida não poupa a denúncia de tudo o que no corpo é também, uma vez dobrado o Cabo da Boa Esperança, sua incontornável ruína. Sob franqueza que chega às raias da brutalidade – consigo próprio e com seus semelhantes. Claro, o compromisso de todo escritor é com a verdade; e não há o que fazer, senão encará-la – de frente. No mais recente Big Brother temos visto, confesso que de minha parte com ternura, a brutal desproporção da velhota Naiá ante as suas congêneres. Se nas exuberâncias juvenis sobra o que chamamos de “beleza física”, uma convenção – mas uma convenção baseada em simetrias -, o que faz do corpo , queiramos ou não, também um objeto de arte, em Naiá salva-a, meu Deus!, apenas a simpatia.

Ainda bem que o velhusco Norberto saiu logo. Já estava ficando desconfortável vê-lo sem camisa frente aos efebos com o viço escultural de estatuária grega. Depois de um tempo, dizia o meu saudoso amigo João Antônio, andar sem camisa é um desrespeito ao olhar alheio.

À escritora Hilda Hilst cuja morte, aliás, acaba de completar 5 anos, um gênio da raça, diga-se antes de tudo, lhe perguntei, certa vez, se, septuagenária, ainda fazia sexo. Desbocada notória, depois de juntar à resposta as baixarias de praxe, saiu-se com esta pérola: “Com que corpo transar se virei uma ervilha?”

E estamos falando de Hilda, senhores, cuja estonteante beleza foi o glamour dos salões paulistanos dos anos 50s, capaz de pôr amantes ao rés do meio-fio, entre eles, Dean Martin e Vinícius de Moraes. Depois dos 60s e recusou ao sexo e aos namorados, recolhendo-se, feito uma Tolstói de saias, ao seu retiro nos arrredores de Campinas. E nos deus as mais belas ficções, dramas, odes e odisséias.

Na procissão de eus, para nunca esquecer mestre Milton Carneiro, fica o sorriso, a voz, umas vezes o charme… O corpo, meus jovens, aproveitem, que a carne, esta é fraca – em vários sentidos.

Wilson Bueno (15/2/2009) O Estado do Paraná.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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