De um lado do oceano, tremas que dão o que tremer e hífens que infernizam. Do outro, paroxítonas com paroxismos. De ambos, a atual insânia com este inoperante esperanto. O problema dos países lusófonos é que se referem a si mesmos com uma palavra que já demanda tradução. Daí para outros desacordos é um tropeço.

Acordo ortográfico – Assim que vigorar de fato, Brasil, Portugal e alguns outros países signatários vão adotar as mesmas desinformações e aí seremos obrigados a unificar todos os nossos erros gramaticais. O resultado parece promissor: em vez de várias incompreensões teremos apenas uma.

Acordo mortográfico – Linguistas nostálgicos aproveitam o ensejo reformático para propor o ressuscitamento de algumas línguas mortas, outras tantas moribundas, inclusive uma área já putrefata do português. As reuniões para decidir a coisa começarão na ABL e terminarão no IML.

Acordo hortográfico – Será assinado exclusivamente entre as empresas de exploração florestal e visa padronizar a escrita e pronúncia da principal polêmica do agronegócio no RS: eucalipto, ocalipto, eucalípitu ou calíptio?

Acordo portográfico –
Adoção compulsória da gíria de estivadores como norma nacional para toda a população litorânea e ribeirinha, inclusive em locais sem cais.

Acordo cortográfico – Resolveria a confusão reinante entre açougueiros regionais e o consumidor nacional, que padece com as diferentes nomenclaturas para os cortes da carne de gado. Teme-se que línguas e facas afiadas dos dois lados do balcão levem tanto à verborragia quanto a hemorragias.

Acordo tortográfico – Recodificação de todo o vocabulário politicamente incorreto a respeito de pessoas portadoras de deficiências da fala. Segundo o acordo, as imitações só seriam toleradas em elevado padrão de perfeição sintática e fonética.

Acordo rotográfico – Para melhor aceitação na sociedade, desculpas esfarrapadas e descosidas serão reformadas com serviços de cerzidos feitos por professores de letras.

Acordo surtográfico – Antiga reivindicação de psicóticos, paranóicos e esquizofrênicos. Pretende a planificação de expressões desconexas e sem sentido, o que facilitaria em muito a comunicação em meio à loucura nossa de cada dia.

Acordo pantográfico –
Não tem nada a ver com o idioma, é apenas uma nova convenção para definir as palavras de alerta a ser usadas naqueles elevadores com portas antigas. Sem as dúvidas de linguagem na hora do entra-e-sai, os usuários estariam livres de ser prensados.

Etc.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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