Jonas cismou que precisava de um cinto novo e foi a uma loja lá no centro da cidade. Chegou lá, escolheu, escolheu… Mas achou caro o preço de quinze reais. A vendedora, depois de fazer a terrível pergunta — Posso ajudar? — disse que na filial do bairro, a vinte minutos de carro, o mesmo cinto estava em promoção e custava dez reais. Jonas, mais do que depressa, saiu da loja e foi comprar lá no bairro.

D. Marocas queria, ou achava que queria, um casado novo. Foi a uma loja do centro. Posso ajudar? Ela disse que sim e escolheu, experimentou, escolheu e experimentou. Aí, gostou de um que custava cento e sessenta e cinco reais. A vendedora, pra fazer charme, disse que na filial do bairro, a vinte minutos de carro, o mesmo casado estava custando cento e sessenta reais. D. Marocas nem pensou no assunto e levou o casado dali mesmo.

Calma! Não tem nada de rivalidade de sexos aí. Pode trocar Jonas por D. Marocas na primeira compra e vice-versa na segunda compra. Esse é apenas um problema proposto por psicólogos pra avaliar nossa compreensão dos assuntos cotidianos. E avaliar a nossa famosa racionalidade como seres humanos. Como você pode ver acima, o desconto pros dois produtos era de cinco reais. A distância da loja do centro até a do bairro era de vinte minutos de carro pras duas compras. Os psicólogos que aplicaram o teste várias e várias vezes pra grupos diferentes colheram o seguinte resultado: na primeira compra, a maioria disse que iria à filial. Na segunda, a maioria disse que não iria. Por quê? São os mistérios da nossa mente que faz contas rápidas e quer ficar em paz. O tal teste serve pra mostrar o quanto nos deixamos enganar pelas contingências. O mesmo ocorre quando vemos a placa de preço no posto de gasolina dizendo que a gasolina custa R$ 2,50. E voltamos correndo pro outro posto, há vinte minutos atrás, que anunciava a gasolina a R$ 2,49 e mais o 99 bem pequeno em cima.

Robert Ornstein, um psicólogo que, pelo menos em 1991, residia em Los Altos, na Califórnia, e escreveu A evolução da consciência pra mostrar como nós enfrentamos o mundo desde que nos tornamos humanos.

Pesquisas mostram que nossas reações primitivas tinham que ser rápidas: tipo escapar ou lutar? Por isso, o cérebro foi sendo preparado pra reações imediatas, que se tornaram rotina. E, por incrível que pareça, diante da torrente de informações de hoje, estamos mais rotineiros. Se você passar em dez postos de gasolina vai ter dez preços diferentes, por décimos de centavos. Além disso, tem que ver se o posto tem bandeira, se pode ter gasolina adulterada. A mente não faz contas, quer ficar em paz. Logo, a racionalidade tão pretendida por nós fica em segundo plano. Fazemos a coisa do jeito que dá na cabeça na hora. O remorso, a raiva, o ódio e o arrependimento vêm depois.

É ator de Nem bobo nem nada, primeiro romancélere brasileiro.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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