Detectando e amplificando a respiração coletiva

German Lorca – Olhar Imaginário

Você pode olhar o passado com olhos de perto ou de longe. Você pode olhar o futuro com olhos firmes ou mortiços. Você pode olhar o presente com olhos secos ou perscrutantes. O resto é sobressalto na madrugada — paraíso fictício onde se encontram razão e emoção, alegria e beleza, raridade e surpresa. Mediocridade não é o mais baixo de tudo, é apenas o meio. No extremo, o começo. O cansaço que espera no fim do sono sem sonhos. Tente fazer tudo para não entender certa coisa acontecida e o entendimento te persegue dia e noite. A clara visão, as arestas mais afiadas, os desníveis perigosos — tudo aparece em letras bem definidas. Tente entender e saltam para longe os diabinhos da razão. Réculer pour mieux sauter. O essencial é elemento padrão de compromisso. Se você se chamasse Kierkegaard teria um peso muito grande sobre os ombros e descansaria carregando pedras. Repouso não casa com raposa. Você tem alguma aguda sensação sobre o que está acontecendo com o ser humano? Salta da tela da televisão algum presságio de sete cabeças?

Consegue desenhar um arco-íris invertido na cara enfarruscada do tempo? Na pizza que entregam na tua casa vem escrito o poema que pinta a alma com cores da aurora boreal? Quando pensamos com fúria estamos roubando das coisas todo o relevo. Pairam sobre todos as asas periféricas da distração. Desejo e repulsa se atraem e se repelem. Escolha seu promontório, suas armas, seus alvos. Estrela de agudas pontas — recolha os instintos gregários, afugente os satélites, rechace as constelações, ignore as galáxias. Vasto cometa de estáticas faculdades — atrele-se uma cauda de poeira de falsos sentimentos e miríades de mãos estendidas com punhos fechados. Desejo vem de de-sidere — ‘longe da estrela’. Teu destino brilhará para sempre nos céus mais escuros. Mas, não haverá nenhum telescópio assestado na tua direção. Teu rastro será feito de lágrimas e lama.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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