Havia todas. E havia a Avi. Adorava ouvir jazz no Original. Ficávamos horas bebendo Jack Daniels, jogando conversa fora madrugadas à dentro e, às vezes, quando a Anna aparecia, ouvindo a Anna Toledo cantar. Eu, Avi e o pessoal que ela trazia do Rio. A Mariella Gould, Danny & Marcia Assayag, o Pimba Godoy. Avi e sua galeria de anjos proscritos.
Certa vez, ali mesmo no Original, chorou compulsivamente durante um show da Badi Assad. Ninguém que a conhecesse um pouco estranhava aquilo. Ela tinha esse lance de chorar de emoção. Assim do nada, deixava escorrer lágrimas diante de quadros e esculturas, casas bem projetadas, logotipos, automóveis antigos.
Aqui em casa, mesmo sem ter visto o filme, chorou diante de um pôster de ‘Rastros de ódio’ só porque viu nele um autógrafo original de John Wayne que eu colara tempos antes. Coloquei o DVD na caixa e ela abriu um berreiro.
Chorava de amor. Vivia emoção em estado puro.
O fato é que, de repente, Avi começou a sumir. Delicadamente. Docemente, como era seu jeito. Foi desaparecendo de exposições, das festas, dos bares. De Curitiba. Do mundo.
Um dia, sumiu e demorou a voltar. Cruzar com ela foi se tornando raro. Fui reencontrá-la, diagnosticada portadora de um câncer no sistema linfático em estágio terminal, no New York Hospital, a poucos dias do Natal.
– Almir, olhe para fora. Escolha a menor nuvem que houver.
– Ok, Avi. Escolhi.
– É a minha nuvem. Ela é que irá me levar.
Quatro dias depois, a 25 de dezembro, pegou a última nuvem para as estrelas e, chorando diante de tanta beleza que se anunciava, virou uma luz no firmamento.