Prêmios sempre serão discutíveis e limitados. A vulnerabilidade está na essência do fato de apontar quem é o “melhor em arte. Deveria ser proibido. “Mas nós gostamos de no mínimo sermos indicados. Nossa Gralha Azul caducou há pelo menos 10 anos. Está acamada, entubada e não morre. Respira um ar provinciano. Ela é forte justamente por ser estéril. Não pariu. Não tem herdeiros. E suas asas fechadas hoje evocam saudosismo.
Curitiba mudou muito. O movimento teatral pede outras formas de mostrar os destaques da cena teatral. Não adianta querer repensar o troféu tendo nas mãos os regulamentos anteriores.
O premio foi criado num momento muito impactante da classe artística, regulamentação da profissão, novos grupos independentes e efervescência cultural na cidade.
Hoje vivemos outro tempo, outros impactos, outras efervescências. Uma riqueza e uma diversidade fenomenal e muitos talentos em todas as categorias do fazer teatral despontam a toda hora.
Nosso teatro é reconhecido fora dos muros da província. Mas a gralha não consegue abrir as asas. Seu vôo rasteiro é comandado pelo estado com sua postura miserável, aquela que nos engana com migalhas do tipo “com eles nossa obrigação está cumprida”.
A mudança deve ser radical e pensada pelos jovens artistas maduros que a cidade está repleta. Temos que ter coragem de dizer não e de deixar o velho morrer, de desentubar o moribundo! Pra que é que serve ganhar este premio hoje? Um prêmio engessado na estrutura de um estado que nunca foi tão omisso. Um prêmio que deveria ser fruto de política cultural, palavra desconhecida dos nossos governantes.
Nossa cidade merece prêmios todos os dias, todos os meses, e em todas as estações! O melhor prêmio que o estado pode nos dar é um reconhecimento que parta do olhar pela diversidade. Se o estado conseguir abarcar nossos talentos e nossas produções abrindo muito mais espaços de trabalho, arejando os corredores ociosos, ventilando as salas de reunião, liberando verbas significativas, não precisará oficializar numa estátua e numa festa mixuruca a sua atenção pelos artistas de teatro.
Se ele fizer sua parte gerando movimento cultural e visibilidade da produção criativa, pode ser que outras instituições venham a criar outros prêmios.
Se o estado nos acolher no dia a dia com menos burocracia “a gralha botará ovinhos e os filhotes aprenderam a plantar o pinhão sem chão demarcado”. Prêmios sempre serão discutíveis e limitados se forem assim burocráticos e circunstancias.
Quem vai dirigir a festa-cerimonia este ano? Quanto de grana os premiados vão ganhar? Vai ter desconto de imposto? E depois nos meses seguintes quem vai continuar nos bajulando? Não precisamos de falsos paternalismos. Se for para premiar com grana que ela seja bem gorda!
Primeira questão que eu botaria na roda: – Quanto o estado vai investir neste prêmio? E depois como? Caixinha de natal é humilhante.
Segunda questão ou pedido:
– Que nenhum amigo ou inimigo desta classe artística aceite ser membro da comissão julgadora para 2011. Se não tivermos comissão o tubo está desligado. Neste caso uma interrupção do prêmio seria saudável. Dar tempo para surgirem outras idéias, mais condizentes com as novas realidades.
Não se decidem mudanças. Elas acontecem se forem favorecidas.
E se houver reflexões maduras poderá renascer das cinzas uma gralha-fênix com vôos mais arrojados. A minha casa talvez seja o maior reduto deste peso cultural chamado Troféu Gralha Azul. Não posso negar sua utilidade pratica de separar os livros nas estantes. Mas, eu não quero ficar velha, chata e saudosista lustrando plaquetas. Minhas Gralhas requereram a eutanásia e eu comecei hoje mesmo a desparafusar as asas de todas elas.
Fátima Ortiz. Atriz, autora e diretora de teatro.
17 de dezembro, 2010