O último gesto. Péricles acabou com tudo de uma maneira elegante. No último dia do ano de 1961, em seu pequeno apartamento em Copacabana, escreveu uma carta: “A QUEM INTERESSAR POSSA. São precisamente 14h30m do dia 31 de dezembro de 1961. Estou completamente sóbrio e não desejo culpar ninguém pelo meu gesto. Apenas estou me sentindo profundamente só. Os amigos, se assim posso chamá-los, estão em suas casas junto a suas famílias, o que não acontece comigo, pois a única família que possuo — minha querida mãe e irmã — está em Recife. Aqui, no Rio, não possuo um único parente, a não ser meu filho que se encontra com a mãe, pois sou desquitado e a mesma falou-me que iria passar o Ano Novo com a família dela, em Recife, pois são, também, pernambucanos. Conclusão: sou profundamente sentimental e nunca passei essa época sem uma palavra de carinho. Apenas a solidão me levou a este gesto extremo. Talvez assim as coisas melhorem para todos.”
Datou e colocou a assinatura famosa. Escreveu outra carta para sua mãe. E fechou a porta de entrada de seu apartamento e a de saída deste mundo. Mas antes de morrer deu uma última rasteira em seu personagem, com um gesto anti-Amigo da Onça. Na porta do apartamento colocou um aviso escrito à mão: “Não risquem fósforos.”
“O Amigo da Onça se transformou no tipo de humor mais popular da história do humor brasileiro. Quando Péricles morreu, 18 anos depois, o Amigo já era — sem nenhum exagero retórico — um personagem imortal” (Millôr Fernandes)
Este livro foi organizado pelo Jota, José Luiz Pires, prefácio de Millôr Fernandes e do próprio Jota; copyright by Angélica Braga Guimarães; publicado no Brasil, 2007, Editora Busca Vida Ltda; depoimentos de Augusto Rodrigues, Fortuna e Ziraldo. Quem procurar, acha.