As charges e a fajuta revolta islâmica.

O blogueiro egípcio Sandmonkey (macaco d’areia),um defensor do livre-arbítrio, finalmente se lembrou porque lhe pareceram familiares as recentes famigeradas charges ditas anti-islâmicas, publicadas num jornal dinamarquês, e que tanta confusão têm causado.

Acontece que ele se lembrou que as tais charges já tinham sido publicadas em outubro de 2005 no jornal egípcio Al Fagr, durante o ramadã. Ele escreveu ontem em seu blog [egyptiansandmonkey.blogspot.com] um post intitulado “Freedom For Egyptians” (Liberdade para os egípcios) com esta revelação bombástica. Apesar de as charges terem sido publicadas há tanto tempo no jornal de um país muçulmano, para toda a população ler, não houve a menor manifestação de escândalo, sofrimento, revolta ou ira da população. E não era um jornaleco não, o Al Faqr tem uma circulação respeitável no Egito.

Pois bem, para matar a cobra e mostrar o pau, Sandmonkey procurou em casa, encontrou a edição do referido dia e escaneou o jornal, estampando as imagens em seu blog.

Resumindo – os terríveis cartuns que têm sido motivo de baderna, destruição e morte, já tinham sido publicados há quatro meses, ou seja, durante o mês sagrado do Ramadan e não houve qualquer revolta. Ninguém pensou por um momento em boicotar o Egito nem seus produtos. No entanto, quando as mesmas charges foram publicadas num jornal dinamarquês… deu no que deu. Grande sacada do Sandmonkey, parabéns.

Vale a pena visitar o blog do homem e clicar nos links que ele oferece. Esperemos que o Sandmonkey mantenha sua real identidade bem guardada, caso contrário vai levar uma bela escovada. Muitos estão acreditando que a intensa revolta que temos visto diariamente na TV e nos jornais é coisa orquestrada. No Líbano, há quem creia que os protestos em Beirute tenham sido apoiados por forças sírias e que o fato de este movimento irado ter irrompido depois dos lamentáveis incidentes durante o Hajj é algo significativo. O post do Sandmonkey está ganhando avassaladora fama mundial, quase estourando a banda do servidor do pobre mancebo.

Mais de 70 milhões de blogueiros já postarem links apontando para o blog do cara, gerando mais de 30 mil hits desde o post. Segundo Sandmonkey, enquanto a população islâmica árabe estava enlouquecida pela revolta criada pela mídia oficial, seus governos estavam se beneficiando dessa distração do povo. A família real saudita, por exemplo, usou esta revolta para distrair a população que ficou tiririca da vida com o estouro das massas de fiéis ocorrida no evento do Hajj em Meca e que resultou em centenas de mortos.

Já o governo da Jordânia usou a revolta para distrair o povo com relação às novas leis locais sobre o salário mínimo exigidas pelos sindicatos. O governo da Síria, por sua vez, se aproveitou do levante para criar uma divisão sectária no Líbano e para mudar o foco no assassinato de Hariri.

E finalmente o governo egípcio está usando a baderna para fazer passar na surdina certas reformas no judiciário e na segurança social. que terão como efeito cortes de mais de US$ 300 milhões nos benefícios das famílias mais necessitadas do Egito.

O povão desses países citados não está prestando atenção aos seus problemas mais imediatos, pois estão ocupados demais defendendo o profeta, enviando milhões de emails e mensagens SMS, boicotando queijo e manteiga dinamarqueses, brinquedos Lego e queimando a bandeira dinamarquesa em suas praças públicas. Isso sem mencionar os mais exaltados que atribuem as charges a uma conspiração judaica visando a denegrir a imagem do Islã.

Segundo Sandmonkey “eles provaram novamente que o mundo árabe é retardado e não merece nada melhor que os líderes que têm”.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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