Beijo AA Força, banda que entortou nossos pés pela primeira vez em 1983. Para resumir sua história com apenas um lançamento: “Sem suingue”, de 1995, só não ocupa os primeiros lugares nas listas dos melhores discos de todos os tempos da música popular brasileira por causa desse distanciamento torto que o resto do país mantém com a produção cultural de Curitiba, (Leminski ou Trevisan são casos bem excepcionais). Preciso deixar bem claro (a nova audição reconfirmou esta impressão antiga): “Sem suingue” não deixa nada a dever se comparado com “Acabou chorare” ou com “Samba esquema novo”. Na minha humilde opinião leva até vantagens, pois reflete bem minha experiência de geração e meus interesses diante do mundo pop atual. Isso só parece exagero porque quase ninguém ouviu a obra-prima curitibana. Quem escutar agora vai pensar que é gravação nova, de tão atual e original (ou não original, já que abusa do sampler).
Tem “Filhos de Gdanski”, mas também “Pedra que rolou”, clássico de Pedro Caetano, e a mulher falando “nossa, como esse Milton Nascimento é engraçado” em “Eu odeio jazz Brasil (more noise, please)”. Tem “Crueldade mental” e sua versão instrumental (com “guitarra Morricone” e “piano Liberace”) precocemente intitulada “Estupidez interativa”. Minha preferida talvez seja a versão de “Negro blues” de Jorge Mautner, com arranjo digno de Jerry Dammers e complemento da letra no encarte com homenagem até para o barulho japonês dos Boredoms (em 1995!). Pode haver disco melhor?
Hermano Vianna|O GLOBO