joaquim-barbosa-2-foto-Nelson-Jr-SCO-STFFoto de Nelson Jr.

Joaquim Barbosa foi a estrela da semana, do mês, do ano, etc. Há quem compare seu gesto de renúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) com o gesto de Jânio Quadros em 1961, pouco tempo depois de ser eleito presidente do Brasil, quando renunciou ao cargo na ilusão de voltar ao cargo nos braços do povo e com poderes totais. Barbosa não é pinguço, tem um problema nas costas, não caspas. Boca dura, deu nó em Lula, que o escolheu para fazer média com a grande nação de negros brasileiros, aproveitou a chance de ter no colo o julgamento do Mensalão e ajudou a colocar na cadeia (nunca esqueçam que as decisões não foram dele, mas sim da maioria dos ministros) alguns nomes graúdos do partido que comandam o país, mas que, em alguns casos, já tinham sido defenestrados da vitrine, como é o caso do ex-ministro José Dirceu, acusado de chefiar a quadrilha que distribuía benesses para receber votos aos projetos do governo no Congresso. Esta prática, como aqui já foi escrito, é comum em todo o território brasileiro. Varia apenas o tipo de “moeda” para o pagamento. Acontece que, nunca na história deste país, a coisa explodiu no andar de cima de forma tão escancarada, quer se chame isso de mensalão, caixa dois ou coisa que o valha.

Ou seja, quem fez, e está pagando, achava que dava braçadas na impunidade do poder – tanto que um dos mentores foi importado de Minas, onde treinou no ninho tucano e agora está lá na cadeia, o publicitário Marcos Valério. Barbosa caiu como uma luva para a disputa fratricida entre o que se rotula de esquerda neste país sem ideologia. Isso pode ser acompanhado na chamada grande imprensa, onde não se faz mais reportagens, mas editoriais em forma de. Barbosa é paladino de um lado (vide capa da Veja) e bandido em outra (vide CartaCapital).

Ele deixa a capa preta mas continua voando acima de tudo isso. Agora faz mistério sobre seu futuro imediato, paparicado que é pelos partidos que querem apear o PT do poder. No auge do julgamento do Mensalão foi cogitado para ser candidato a presidência da República, coisa que só acontece num país onde falta educação, cultura, informação e o que é assimilado com facilidade é última troca de casais entre artistas de televisão. Inteligente, o primeiro negro a chegar à Corte Suprema do Brasil, colocou tudo isso no liquidificador e provavelmente vai manter-se assim, no mistério que faz todo mundo se perguntar para onde vai. Talvez nem ele sabe. A certeza que tem, contudo, é que fez história. Blog do Zé Beto

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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