À luz da devastação

Arte de Trimano, especial para o Solda Cáustico

Você pode escrever a palavra FURACÃO ou tempestade, ciclone ou VENDAVAL com letras maiúsculas, CAIXA ALTA, mas isso não vai conferir ao texto nenhum poder devastador. Identificados como pontos luminosos ou “inspirados” de uma criação literária, eles existem; podem ser raros como diamantes ou abundantes como uma constelação, no caso da narrativa bíblica.

Existem textos – nos mais variados estilos, inclusive (ou sobretudo) românticos – que apresentam poderes devastadores. Produzem livros igualmente devastadores e são famosos por suas “pegadas” devastadoras. Nesta categoria estão os clássicos, birutas do intelecto e da emoção de milhões de navegantes. São textos que fazem rir e chorar, como Dom Quixote e Madame Bovari, mas existem também aqueles textos notáveis e – fugazes – episódicos como a cena inesquecível de um filme. Textos-gotas que sobrevivem mesmo quando isolados do contexto da sua história. Muitas vezes são apenas parágrafos, trechos, que fazem parte ou não de uma história igualmente devastadora. Mas superam o tempo e ficam eternizados na memória coletiva, como a apresentação que Fante faz de seu personagem, Arturo Bandini, no primeiro parágrafo de Pergunte ao Pó:

“Uma noite, eu estava sentado na cama do meu quarto de hotel, em Bunker Hill, bem no meio de Los Angeles. Era uma noite importante na minha vida, porque eu precisava tomar uma decisão quanto ao hotel. Ou eu pagava ou eu saía: era o que dizia o bilhete, o bilhete que a senhoria havia colocado debaixo da minha porta. Um grande problema, que merecia atenção aguda. Eu o resolvi apagando a luz e indo para a cama.”

No próximo capítulo:
Grande Sertão, Divina Comédia e Macunaíma.

Toninho Vaz, de Santa Teresa

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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