Sabe esses desenhos de guardanapo? Então, este livro é meio isso. Ou é como um flog onde você posta umas coisas que vai fazendo assim ao acaso. Ilustrador profissional desde 79, produzo bastante mas rabisco muito mais e este livro foi feito rabiscando direto, sem esboços, sem retoques. Nem silicone nem photoshop. Apenas moças. Moças normais. Tá, tá certo. Tem uma ou outra bizarrice mas o bizarro hoje é tão normal. E tudo começou no blog do Solda, o grande responsável por esta produção depois das próprias moças, claro. Primeiro fiz uma, depois mais outra, mais quatro ou cinco de uma vez até que num determinado momento me senti no ginásio rodeado de moleques cheios de espinhas na cara e pelos nas mãos que pediam para eu desenhar mais uma gostosa. Orlando Pedroso
Para quieta aí, pentelha,
Pra eu poder te desenhar,
Eu sou a tua pinça, mina,
Cheguei pra te depilar.
Te penteio com o meu pente, nega,
Te pinto com minha broxa, grenha,
Despenteio a tua tocha cheia,
Faço o teu pelo desenrolar.
Pelo sim e pelo não,
Não me faz embaraçar,
Que eu te descabelo toda, mola,
Pena e pluma a deslizar.
Me revolto e te revolvo,
Minha garofina fina,
Faço de você boneca,
Cabeluda colombina.
Mexe-mexe as madeixas,
Mata densa emaranhada,
Mete isso na cabeça,
Mecha luz enraizada.
O meu pente banguela,
Todos os dentes perdeu,
A tua crina, megera,
Minha palma amoleceu.
Fica paradinha aí,
Que eu quero só te espiar,
Faz de mim o teu reflexo,
Tua imagem a me mirar.
Barbara Gancia, 48, é colunista da Folha de S. Paulo e da BandNews FM e apresentadora do Bandsports. Ela se depila com uma receita caseira de açúcar queimado.
Orlando pediu segredo enquanto preparava este livro. Então, secretamente, lá vai: eu tenho um blog: Cartunista Solda, grande novidade, quem ainda não tem um? — com uma seção chamada Mata Atlântica, onde posto fotos de mulheres com os pentelhos inteirinhos, isto é, os pelos pubianos sem depilar. Mata Atlântica é oxigênio! E não me chamem de saudosista! Um dia, Orlando mandou um desenho sobre o assunto, relacionando os pelos de baixo com os de cima, ou seja, o penteado com os pentelhinhos. E diariamente mandava aquelas maravilhas que só ele, ilustrador de mão cheia, sabe fazer. E fomos publicando, e os internautas se deliciando com as gurias.
Uma manhã ele mandou um e-mail com os desenhos, chamando-os de Moças Finas. Taí: adotei na hora o nome, que não substituiu a Mata Atlântica, mas acrescentou um espaço dedicado só ao Orlando, El Pedroso. As Moças Finas do meu blog são do coração e da prancheta do Orla.
Orlando é meu amigo desde a década de 80, por tabela, pois ilustrava a coluna que Paulo Leminski — putz, estou destinado a falar sobre o Polaco pelo resto da minha vida! — meu companheiro de trabalho e de mesa de bar, publicava no caderno Ilustrada, da Folha de São Paulo.
Depois o conheci pessoalmente em Teresina, no Salão de Humor do Piauí, ambos suados, quase desidratando e Orlando com sua maquininha digital que só fotografa desenhistas. Temos uma mania: trocamos e-mails monossilábicos e também conversamos assim. E nos entendemos perfeitamente. E, parece pacto, só nos encontramos em Salões de Humor. Mas quando eu for a São Paulo, vou visitar o seu estúdio mágico, de onde saem as maravilhas que vocês vêem impressas em revistas e jornais do Brasil inteiro. Creio que ele é capaz até de, ao me atender, ser gentil e me convidar pra entrar. E quando ele vier a Curitiba, repetirei o gesto.
Mas não contem isso que eu escrevi pra ninguém: continua em segredo a pedido do Orlando, El Pedroso, até que este livro seja publicado. Solda — o monge do Bacacheri (bairro curitibano).
Moças Finas|Fantasma Editor – Quem procurar, acha!