O scandisk me avisa que está procurando erros na unidade C. Todos os dias, ele me avisa. Não preciso pedir, não preciso me zangar, nem ir fazer fofoca da conduta dele pro diretor. Ele, dentro das suas atribuições, me avisa que está procurando erros na unidade C. É diligente, reto e certeiro na sua tarefa. Em poucos minutos aponta falhas ou diz que está tudo bem de novo. Posso continuar meu trabalho sem preocupações maiores, sem tentar me suicidar por causa de erro grave lá dentro da máquina.
Ele, o scandisk, foi estudado, foi construído e tem essa função. E desempenha todos os dias. Eu, ao contrário, não fui programado pra nada. Tem dias que aceito bem seu aviso. Tem outro dia que me rebelo e faço escândalo. Deixo de tomar café, não cumprimento os colegas de trabalho e até esqueço a porta da geladeira aberta. Fico perguntando pro scandisk, meio como aqueles mafiosos faziam com os que estavam na bica pra serem removidos da sociedade: “Quem errou? Quem? Quem delatou nosso carregamento secreto de bebidas? Qual cavalo vai ganhar o terceiro páreo de domingo? Já calçou algum dia sapatos de cimento? Já visitou o fundo do mar sem escafandro?” O scandisk não responde. E tento ligar pro técnico pra saber onde ficam os pés do scandisk, enquanto o motoboy está vindo da casa de material de construção com o saco de cimento. Sempre esqueço de perguntar que número o scandisk calça.