Nada como não jogar fora jornais e revistas. Aprendi isso com a família. Um primo advogado, que morava com a mãe, nunca jogou fora um exemplar do “Correio da Manhã”. Os jornais entupiam o 2º andar de um velho sobrado na rua do Riachuelo, na Lapa, nos anos 50. Minha tia era asmática em último grau e aquilo não lhe devia fazer bem. Mas ela também nunca jogou fora suas revistas “Fon-Fon”. Imagino as maravilhas naquelas pilhas empoeiradas.
Fazendo faxina, caiu-me às mãos esta semana a “Playboy” de agosto de 2007, contendo a entrevista dos repórteres Tom Cardoso e Fernando Barros de Mello com José Dirceu –já ex-ministro da Casa Civil e ex-presidente do PT, mas ainda não julgado pelo mensalão. O presidente era o Lula. Perguntas ótimas e respostas melhores ainda. Eis algumas:
“[Por que] eu não posso fazer consultoria? No fundo, o que eu faço é isto: analiso a situação, aconselho. Se eu fizesse lobby, o presidente saberia no outro dia. Porque, no governo, quando eu dou um telefonema, modéstia à parte, é um telefonema! As empresas que trabalham comigo estão satisfeitas”.
“Só o presidente da República pode me revelar o que ele me solicita, o que me aconselha. Eu não posso revelar. Quando ele me pede algo, eu faço com prazer”. “O Lula não dá cheque em branco pra ninguém. Não é da natureza dele. Pelo contrário, ele delega, mas controla, cobra. Ele é um presidente da República que tem controle sobre tudo o que está acontecendo”.
“Pode-se dizer que minha maior qualidade é que eu sempre tomei decisões, sempre soube organizar o que me atribuíram como responsabilidade. Sempre soube planejar, ter objetivo, metas, executar e controlar a execução. Também sempre trabalhei coletivamente. Nunca trabalhei sozinho”. Ao ser perguntado sobre seu maior defeito: “Falar demais”.
Ruy Castr0 – Folha de S.Paulo