Na aparência, um PMDB que decide salvar o “ajuste fiscal” e o governo, curvando-se a dezenas de vetos presidenciais a medidas só aprovadas pelo Congresso porque sustentadas pelo mesmo PMDB. Na realidade, uma chantagem política, urdida passo a passo, por meses, até o governo sentir-se em sua penúltima hora. E entregar, entregar-se, ao PMDB que lhe disse o que queria e o que fazer, para ser salvo na salvação do seu “ajuste”. O PMDB em plena forma.
Visto como um gesto altruísta de Michel Temer, ou de ressentimento desse peemedebista com ares de esfinge, a recusa em fazer indicações na mudança do ministério foi, de fato, o abandono de Dilma às feras: “negociação”, só com a bancada na Câmara. Além de feras peemedebistas, centuriões de Eduardo Cunha. Jogo decido antes de começar.
Para esse PMDB, impeachment ou não, pouca diferença faz. O PMDB deu-lhe uma derrubada como efeito colateral, na ocasião mesma em que Aécio propalava negociações para a adesão dos peemedebistas à derrubada de Dilma. Tal efeito não alivia tanto as expectativas de Dilma, porque suas possíveis dificuldades vêm mais da Justiça Eleitoral e do Tribunal de Contas da União do que de Aécio e seus aprendizes de golpistas. Alteram, porém, o confronto de forças políticas, em favor de Dilma.
Certa turbulência continua, no entanto. Mas com o PMDB instalado em conforto no governo, sobre um colchão de R$ 106 bilhões da saúde e outros bilhões menos visíveis e também divisíveis, a configuração geral fica menos agitada e menos difusa. Por quanto tempo, só o PMDB poderia sugerir. E não diz.
ÍNTIMO
Sete anos e três meses fizeram 2.610 dias de governo de Aécio em Minas, entre 2003 e 2010. Seria indelicado, no Rio, vermos Aécio como um visitante. É de casa. Mas estar como governador o pôs na condição temporária de visitante de fim de semana, cujo período típico é de sexta ao final de domingo ou, também comum, até a manhã de segunda. O equivalente a três a quatro dias.
Especulemos com o período menor, cerca de três dias. Deixados de lado voos em aviões e helicópteros particulares e fretados, nas 124 viagens ao Rio em aviões oficiais –reveladas na Folha por Ranier Bragon e Aguirre Talento– Aécio passaria 372 dias no Rio. Na capital, em Angra, em Búzios, foi sempre foi muito solicitado, para bem mais de três a cada vez. Chamado, porém, de volta à responsabilidade de conduzir Minas e os mineiros.
Mas 372 dias, não importa se um pouco menos ou um tanto mais, perfazem um ano de governo passado no Rio.
O MÉTODO
Procuradores da Lava Jato protestam, ministros do Supremo divergem entre si e vão decidir: os inquéritos do Ministério Público alheios à Petrobras devem estar no conjunto da Lava Jato ou em inquérito e processo próprios? A divisão, usual, prevalece entre as opiniões já conhecidas de ministros. Com a discordância de Gilmar Mendes. Para a qual a concentração dos inquéritos justifica-se porque “é a mesma forma de agir, atores e autores que participam das negociações. Temos um método de atuar que se revela em todos os casos. Qual a diferença entre o petrolão e o eletrolão?”.
Interessante, embora o almirante da Eletronuclear, por exemplo, nada tenha com Petrobras. Mas não é o método idêntico de ação que, por si só, torna conexos dois mais atos a serem julgados. Em exemplo simplório: um assassino pode usar do mesmo método em duas ou mais ocasiões, e nem por isso seus atos serão considerados conexos para julgamento.
ECO
O último parágrafo da coluna de terça-feira (22) sofreu dois acidentes. Um, por mim, quando surripiei um nome ao reduzir o texto. O outro, na edição, por problema de espaço. Eis o original: “Os dados biográficos de Moreira Franco publicados com a entrevista são novidade, para o Rio, sobre esse piauiense. ‘Doutorando na Sorbonne’ lembra o título do ex-ministro Bernardo Cabral, também na Sorbonne, que a Folha descobriu existir só como imaginação.”
Janio de Freitas – Folha de São Paulo