Meu amor,
escrevo pra dizer que acabou de vez. Pode ter certeza de que dói mais em mim do que em você. Afinal, foram tantas noites em claro, tantas tardes em que eu deveria estar trabalhando e passei do seu lado, tantas vídeos virais que descobrimos juntos. Era você que eu cumprimentava assim que abria os olhos.
Quando te conheci, estava vindo de um término complicado com o Orkut: uma relação que durou muito mais do que deveria. Aos poucos você foi me ganhando e quando vi estava pagando pra ter sua atenção. Doeu quando descobri que você vendia informações minhas e nunca me deu um centavo. Essa sua mania de guardar tudo: você sabe que isso não tá certo. Outro dia saí com o Snapchat, a gente se divertiu pra cacete, e no dia seguinte
ele não lembrava de nada. Que delícia.
Hoje faz uma semana que a gente não se vê. Às vezes é estranho. As pessoas falam de você o tempo todo: na família, no trabalho, nas festinhas. Isso também mudou: antigamente você servia pra falar das festinhas. Hoje parece que as festinhas servem pra falar de você. Até minhas tias-avós estão obsessivas. Outra coisa: até hoje não entendi o que você tem contra mamilos femininos.
Hoje percebo que o problema não sou eu, é você. É aquele mania de tocar vídeos que eu não pedi pra ver. É aquela sua mania de perguntar: “O que é que você está pensando?”. Deixa eu pensar em paz, porra. Por sua causa, deixei de ler. Tentava abrir um livro e você não calava a boca: “Ei, olha pra cá! Tá rolando treta! Ta rolando nude!” Nenhuma obra da literatura pode competir com treta e com nude. Você sabe disso.
O término não foi bacana. Você me obrigou a dizer o motivo. “Tô perdendo tempo demais com você”. E você: “Calma, a gente pode se ver menos, eu dou um jeito”. E eu: “Você me faz uma pessoa mais triste”. E você: “Eu vou melhorar. Desculpa. Fica. Se ficar, libero até mamilos femininos. Fica.” Você não tem amor próprio, cara?
Quando viu que nada mais podia me convencer, você foi baixo. “Olha só esses amigos. Eles vão sentir sua falta.” Não precisava insinuar que eles só são meus amigos por sua causa. Mesmo os amigos que eu conheci através de você sabem onde me achar: e já estão me achando. A gente não precisa mais de você.
Não vou pedir que você devolva as mil horas que você me tomou -e nunca deu. Só queria mesmo que você soubesse que sem você eu passo bem demais.
Sim, eu sei. Posso voltar pra você a hora que eu quiser. No hard feelings. Você não tem amor próprio, cara?
Gregorio Duvivier – Folha de São Paulo