Horóscopo

Sou Jesus, não o menino. Me deram esse nome e carreguei a cruz. Estou velho, descendo a ladeira. No dia em que foram me mostrar o Jesus, não vi. Ele estava envolto num pano roxo. Deixei pra lá. Fui cuidar da vida. Fiz o quarto ano primário. No primeiro dia de aula levei um cascudo da professora. Só porque enfiei a mão na cara de um panaca que tirou sarro de mim por causa do óculos quadradão. Quatro olhos é o caralho! O nariz dele parecia um chafariz de sangue. Gostei. Nunca matei ninguém. Mas quase. Não sou revoltado. Sou humano. Não tenho os dentes principais da mastigação. Um açougueiro me tirou quando era adolescente. Não quis tratar. Vivo de bicos. Não tenho profissão. Às vezes sobra uma graninha para a cerva. Às vezes como pão com banha. Perdi os parentes. Acho que, na verdade, eles me perderam. Um dia me deram uma escopeta para pregar alguém numa porta. Contaram que num livro um escritor famoso descreveu isso. A grana era boa, mas eu não quis. Sou da paz. Mas não me encham muito o saco. Gosto de arma branca, mas também nunca furei ou estripei. Olho para elas e vejo poder. Delas, não meu. Sou Jesus. Crucificado desde o nascimento. A ressurreição não vem. Essa lorota é para quem não vive a realidade. Acredito, sim, que eles sabem o que fazem. A maioria é escrota e não tem alma e coração

Zé da Silva

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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