A volta do guerreiro de Brancaleone

Eu havia pedido ao compadre Zé Beto para que me liberasse do compromisso de escrever aqui todas as semanas. Disse-lhe que estava cansado, que muito provavelmente já havia dito tudo o que tinha a dizer. E concluíra que de nada adiantara. Os canalhas da vida, sobretudo aqueles entranhados na vida pública, continuam e continuarão sempre sendo canalhas. Levam porretada e mantém o riso. O desgaste é só da gente, dom quixotes de província, sonhadores ingênuos, que, ainda acreditam ser possível lutar por um futuro melhor. Quando se tem futuro – o que nem é o meu caso.

Tornei-me repetitivo. E com isso angariei um bando de idiotas como leitores, incapazes de dialogar como gente grande, mas sempre prontos a insultar, pelo simples prazer do insulto, quem escreve publicamente ou posar de engraçadinhos sem nenhuma graça, sob a proteção do anonimato. Não é para eles que eu escrevo. Eles não merecem a minha escrita, o meu esforço mental e a minha sinceridade – se me permitem a ausência de modéstia.

Somando os quase cinco anos presente nesta trincheira aos quase 13 do extinto “O Estado do Paraná”, foram quase 18 anos de luta contínua. Combate aberto, rosto limpo, argumentos explícitos. Algumas batalhas foram vencidas, outras não. Mas sempre com lisura de propósitos. Aí, o cansaço chega, a depressão torna-se a pior inimiga e uma trégua na luta se faz necessária.

Zé Beto não aceitou o meu pedido. Entendeu os meus motivos, mas não quis saber de conversa. Concedeu-me, no máximo, algum tempo de descanso, mas exigiu retorno. Não vou reproduzir aqui a resposta que ele me mandou para não me tornar pretensioso e por se tratar de coisa de interesse íntimo. Mas me permito pinçar duas lições recebidas do mestre: a) “depois de 40 anos de profissão, aprendi que, no fundo, no fundo, escrevemos primeiro para nós mesmos, não para gregos e baianos, porque, como disse outro colega, Ivan Lessa, leitor tem que ler, não escrever…”; b) “sem citar Blancaleone, que já virou clichê, é preciso manter a chama acesa, a indignação latente e aproveitar os espaços que ainda restam em meio à pocilga”. E concluiu com a sabedoria conseguida no muque: “Não podemos parar sob o risco de colaborar com a mediocridade geral. Tenho certeza absoluta que suas palavras iluminaram pelo menos uma pessoa neste tempo que está aqui. Precisa mais?”

Precisa não, meu generoso amigo. Se uma pessoa, apenas uma, entender a sua mensagem, o objetivo terá sido atingido e você se sentirá realizado. O diabo é que, ao expor a cara para bater, a gente sujeita-se a incompreensões de néscios em busca de seus dois minutos de notoriedade, mas são tão estúpidos que se esquecem de identificar-se.

Zé Beto foi sábio ao referir-se à necessidade de manutenção da chama, do exercício da indignação e do aproveitamento dos espaços. Se há um defeito que me acompanha desde a mais terna infância – não sei se por uma questão de signo (sou virginiano, como se sabe) ou mal de família – é o dom da indignação. Ferve-me o sangue e afina-me a língua a patifaria e a canalhice, sobretudo se vinda de alguma autoridade pública. Odeio os oportunistas, os opressores e os aproveitadores da fé e da ignorância públicas, a injustiça, a inoperância e a mistificação do poder público. No meu mundo, eles são equiparados aos sequestradores, aos pedófilos e as estupradores.

Estou de volta, grande ZB. Não podia rejeitar o seu chamado. Tenho-o como um exemplo de lutador, um bravo resistente que foi capaz de sobreviver às duras intempéries da vida e se mantém firme no propósito do “só por hoje” por toda a eternidade. Meus demônios são outros. Mas enquanto puder subjugá-los, estarei aqui para ajudá-lo na luta que é de todos nós. Com o sabre na mão, mas muito amor no coração para dar.

Há alguma coisa nova no ar. As operações Lava-Jato, Zelotes e Quadro Negro, por exemplo. De repente, descobriu-se que há policiais federais, procuradores da justiça e magistrados que pertencem ao lado luminoso da Força. Se não houver interferência maléfica das superiores instâncias, Darth Vader está com os seus dias contados.

céliodois

Blog do Zé Beto

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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