© Adriano Machado|Reuters
Na cerimônia de posse de cinco novos dirigentes de órgãos federais, nessa quarta-feira, o presidente em exercício Michel Temer lamentou as críticas que vem sofrendo em menos de vinte dias de governo e taxou de “oportunistas” aqueles que pretendem debitar ao seu curto reinado os resultados negativos da economia e o desequilíbrio social.
Ora, presidente! Todo mundo sabe que v.exª. não é o responsável pela quebra econômica do Brasil, pelo brutal déficit fiscal, pela inflação galopante que asfixia os brasileiros e pelos quase doze milhões de desempregados que perambulam sem esperança pelo país. Só podem dizer isso os idiotas mal informados ou os mal intencionados serviçais do lulopetismo que emporcalhou a Nação e ainda sonham com a volta da “presidenta” ao desgoverno.
Mas v. exª. sabia que isso iria acontecer. Sabia, ainda, da situação em que o país se encontrava. Ou, nas suas próprias palavras, “mergulhado em uma das grandes crises da sua história”, onde “uma conjugação de problemas causados por erros ao longo do tempo, comprometeram a governabilidade”. Não obstante, assumiu. E, ao assumir, assumiu a responsabilidade pelo déficit fiscal, pela inflação, pelo desemprego em ascensão e pelo comando do Brasil.
Sabia, também, como todo mundo, que teria pouco tempo e que não podia errar. Mesmo assim, cercou-se mal. De gente comprometida com malfeitos e/ou sob investigação policial. De olho no apoio parlamentar que garantisse o impeachment, montou um dos mais fracos ministérios dos últimos tempos, tão ou mais fraco que o da “presidenta” ora em compasso de espera.
Resultado imediato: foi obrigado a mexer na escalação antes dos quinze minutos do primeiro tempo de jogo. E lá se foram o armador do time e um dos principais componentes da defesa. E outros ainda poderão deixar o gramado.
Pior do que isso, presidente, é que v. exª. está se tornando refém da arquibancada. Basta a turma gritar e v. exª. se entrega. Foi assim com a extinção, fusão, separação e recriação do Ministério da Cultura. No entanto, a artistarada, viciada na mamadeira oficial, continua gritando e até mudou de desejo: agora quer a vossa queda.
O mesmo está acontecendo com o pessoal da antiga CGU. Inicialmente, estava desgostoso com o rebaixamento hierárquico do órgão. Mas aproveitou a revelação de que o escolhido para dirigir o novo Ministério da Transparência estava enroscado na Operação Lava-Jato, para exibir-se como baluarte da moralidade. Arredado o ministro, também mudou de meta: agora, exige, além do retorno da antiga Controladoria Geral da União, o poder de indicar, em lista tríplice, o comandante do órgão (!).
Como se vê, excelência, a herança recebida por v. exª está muito mais “aparelhada” do que se imaginava. Não será tarefa fácil higienizá-la.
Desse modo, excelência, é possível admitir-se tudo de v. exª., capitão de primeira viagem: má escolha da marujada, desatracagem titubeante do porto, certa neblina na rota traçada, mas tibieza jamais. Governante fraco é governante sem autoridade. E governante sem autoridade não poderá governar.
É isso aí, presidente. Eu bem que achei aquele vosso tapa na mesa, durante a primeira reunião ministerial, ao afirmar que sabia governar, leve demais. De quem não quer machucar a mão.
Blog do Zé Beto