© Christian Gaul
Ofender, injuriar, tentar agredir Letícia Sabatella faz lembrar o episódio de Charles Talleyrand, a maior raposa da história política francesa. Ele maquinou com Napoleão Bonaparte o fuzilamento do Duque de Enghien; receavam que o duque restaurasse a monarquia Bourbon, atingindo o iniciante império napoleônico. O duque era inocente, tão inocente que não fugiu da França durante a Revolução. Arrependido, mais tarde Talleyrand, fez mea culpa sobre a morte do duque: “Mais que um crime, foi um erro”.
Como trouxemos França, política e Letícia Sabatella, tem mais um episódio interessante sobre a França e a atitude diante da divergência política. Na presidência do general De Gaulle, a França enfrentou a agitação estudantil de 1968, que paralisou Paris, com protestos e depredações. Desse lado estava o filósofo Jean Paul Sartre, ativo na agitação.
Alguém sugeriu a De Gaulle que Sartre fosse preso; mesmo Sartre pediu isonomia, que fosse também preso, já que o governo prendia seus companheiros. O general rejeitou a proposta dizendo “não se pode prender Voltaire”. Naquele momento Sartre tinha para a França a mesma importância de Voltaire no século 18, ambos símbolos da civilização francesa.
Agredir Letícia não foi só um crime. Também foi um erro. Mesmo que se discorde de seu lado político, mesmo considerando antibrasileira a visita que fez ao Papa para reclamar do ‘golpe’, Letícia tem direito de ser quem é, na arte e na política.
Guardadas as diferenças entre personagens e eventos, não se pode ofender, atacar Letícia. Ainda que estejamos na política oposta, ela é símbolo – da arte, do Brasil, e, acima de tudo, de Curitiba. Se Letícia é símbolo, seu símbolo nos ensina: não se pode atacar ninguém em nome de divergências, sejam quais forem.