Em Israel, somente os rabinos tem o poder de firmar ou dissolver um casamento. Mas esta última opção só se concretizará se houver total consentimento do marido. Viviane Amsalem (Ronit Elkabetz) está pedindo um divórcio há três anos, mas seu marido, Elisha (Simon Abkarian), a nega. A intransigência do marido e a determinação de Viviane em lutar por sua liberdade dão o contorno deste processo.
20 de agosto de 2015 (1h 56min). Direção de Shlomi Elkabetz, Ronit Elkabetz. Com Ronit Elkabetz, Menashe Noy, Simon Abkarian. França, Israel e Alemanha
A lei dos homens
Em Israel, de acordo com as leis religiosas, um casal apenas pode se divorciar com o consentimento do marido. É ele quem decide se a mulher pode ou não ficar “livre para outros homens”. O Julgamento de Viviane Amsalem questiona este princípio ortodoxo através da história de uma esposa que luta, durante cinco anos, para obter o divórcio de um marido controlador. Como ele se recusa a conceder a separação, os rabinos e juízes nada podem fazer para resolver o caso.
O Julgamento de Viviane Amsalem – É interessante que o roteiro não apresente fatos agravantes para justificar o divórcio. Nenhuma violência doméstica, infidelidade ou abandono é introduzido na trama para sustentar o pedido. Viviane deseja abandonar o marido por falta de amor. “Isso é irrelevante”, responde um dos juízes. Pelo contrário, parecem dizer os diretores Ronit Elkabetz e Shlomi Elkabetz: o absurdo tão bem abordado neste drama é o amor sendo ignorado pelas leis religiosas. Ora, se o marido não bate na esposa, se ele fornece os bens materiais necessários à vida do casal, ela não tem motivos palpáveis para requerer o divórcio. A religião judaica, machista como todas as três grandes religiões (cristianismo e islamismo incluídos), faz da mulher uma possessão do homem.
O Julgamento de Viviane Amsalem consegue evitar o maniqueísmo que poderia facilmente nascer do tema. Viviane (Ronit Elkabetz) não é uma pobre vítima, Elisha (Simon Abkarian) não é um monstro. Os juízes também não são pessoas perversas e maldosas; eles apenas seguem uma ideologia que os precede, sem questionamento. Isso torna a mecânica desta história tão fascinante: todos estão presos a uma lei (divina e humana) que não se adaptou à evolução social. Viviane é apresentada como uma mulher moderna, embora não revolucionária, apoiada por um advogado idealista (Menashe Noy) e contestador, por não usar o quipá diante de autoridades religiosas. Ventos modernos sopram na claustrofobia deste cenário.
Por falar em cenários, o filme inteiro se passa no espaço de um tribunal. Nenhum personagem abandona os cômodos brancos e minimalistas da sala de julgamento e da sala de espera. O recurso teatral poderia ser monótono, mas os cineastas adotam uma abordagem expressiva e dinâmica dos planos e da montagem. A sucessão de elipses indicadas na tela (“dois meses mais tarde”, “três meses mais tarde”) reforça o absurdo tragicômico deste caso: os personagens retornam às mesmas cadeiras, ano após ano, debatendo o direito de não amar. A luta labiríntica e repetida de Viviane, mês após meses, adquire tons kafkianos.