O Dragão

Dragao

O Dragão que velou o Monte Estoril durante nossa estada em Portugal não era certamente chinês ou japonês pois possuía asas. De asas fechadas vigiava a terra, o mar e o céu. Poderia ter vindo das nuvens, célebres fornecedoras destes fantásticos seres conforme observou Shakespeare: “sometimes we see a cloud that’s dragonish”. Porém não tínhamos a certeza se viera das nuvens porque este fabuloso ser provém de infinitos lugares e assume formas diversas, segundo acredita cada povo. Pode ter ou não asas, soltar fogo e fumaça, ser brilhante ou totalmente negro, ter escamas, patas, cavalgar o vento e pode chegar ao céu.

Pode ser visível ou invisível. Alguns têm escamas, outros uma barba, língua longa e dentes afiados. Conrad Gesner (1516-1565) naturalista suíço publicou entre 1551 e 1558 a sua “Historiae animalium”, obra científica, onde não é posta em dúvida a realidade do dragão. Possui vários nomes, dependendo do país onde habita. Em Portugal chama-se Coca, é fêmea e foi contra ela que São Jorge lutou. Perdeu sua força quando o santo guerreiro cortou-lhe uma orelha. O nosso Dragão do Monte Estoril – e digo nosso, pois nos fez companhia durante os quase oito anos em que lá moramos e ainda deve estar por lá a vigiar – provavelmente é aquele que, já não precisando guardar o tesouro fabuloso que durante 300 anos vigiou por volta do século VIII (conforme a saga do Beowulf) emigrou para terras mais amenas. Dissimulado como todo Dragão, conforme a hora do dia poderia ser visto de uma maneira ou de outra. Pela manhã e ao entardecer é que se mostrava na sua melhor forma.

Nem todos o viam e muitos duvidavam de nossa sanidade quando o tentávamos mostrar. Os artistas logo o identificavam na paisagem vista da janela de nossa casa. Fotografei-o para mostrar aos incréus.

Dico Kremer 04/2009

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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