Leio nos jornais e fico sabendo pelos comentaristas políticos da TV que a grande vitoriosa das últimas eleições no Brasil foi a “centro-direita”, e acho graça. ‘Centro’? ‘Direita’? ‘Esquerda’? O que é isso hoje em dia. Na esfera municipal?!
O tema deve ser enfrentado por especialistas, como o nosso sempre lúcido Ivan Schmidt. Mas ouso colocar a minha colher de pau neste angu. Historicamente, essa questão de ideologia teria sido proposta pelo filósofo francês Destutt de Tracy (1754-1836), durante os debates da Revolução Francesa, atribuindo a origem das ideias humanas às percepções sensoriais do mundo externo. Algo muito elevado para o meu modesto raciocínio. Quando entrou em campo o filósofo alemão Karl Marx, atou a ideologia aos sistemas teóricos (políticos, morais e sociais) criados pela classe social dominante. Marx foi um dos expoentes da chamada ‘esquerda’, que, em tese, defenderia a implantação de igualdade social. No outro extremo localizar-se-ia a “direita”, cujo objetivo, segundo os compêndios, seria a proteção da classe dominante, a chamada burguesia, visando, acima de tudo, o lucro e o acúmulo de riquezas.
Numa análise mais recente, o escritor e jornalista Olavo de Carvalho, tido como o grande porta-voz da ‘direita’, entende que a ‘esquerda’ “favorece o controle estatal da economia e a interferência ativa do governo em todos os setores da vida social, colocando o ideal igualitário acima de outras considerações de ordem moral, cultural, patriótica ou religiosa”, enquanto que a ‘direita’ “favorece a liberdade de mercado, defende os direitos individuais e os poderes sociais intermediários contra a intervenção do Estado e coloca o patriotismo e os valores religiosos e culturais tradicionais acima de quaisquer projetos de reforma da sociedade”.
Os novos prefeitos e os novos vereadores saberiam disso?
Pois é, tudo certinho, muito bonito, mas, no frigir dos ovos, apenas “nhe-nhe-nhem”. Na prática, ficamos onde sempre estivemos. Até porque, segundo os entendidos, há muitas ‘esquerdas’ e muitas ‘direitas’. E, na prática, todas sem maior resultado, a não ser para os de costume.
Quem seria o grande ícone da ‘esquerda’ no mundo atual? A Rússia, de Putin, ex-União Soviética, certamente não é. Não passa de uma federação falida, que rosna baixo e é dominada pelas máfias. Tanto que hoje – depois de grande protagonista durante a Guerra Fria – marca presença na série B mundial, no BRIC dos emergentes, juntamente com o Brasil. Então a China? Mas na China (outro membro do BRIC), como se sabe, impera o capitalismo de Estado, com produtos baratos e mão de obra escrava, e uma bruta desigualdade social.
E a ‘direita’? Continuaria tendo o seu estandarte empunhado pelo império norte-americano?Só que nunca houve um avanço social tão significativo quanto na América de Barak Obama!…
Quer dizer: tem alguma coisa errada nessa receita.
Voltando ao resultado das recentes eleições municipais, para onde nos levaria a ‘direita’ do robusto e alegre Rafael Waldomiro? No máximo, à sacristia. Ou aos banheiros públicos que ele pretende implantar na cidade. E a do carioca Marcelo Crivella? À glória do Senhor Jesus, desde que quitado o dízimo, é claro.
Em São Paulo, será um pouco diferente. O prefeito João Doria, um ‘mauricinho’ de carteirinha, à bordo de seu modesto Porsche Cayenne S – 2012 e com um legítimo cachmere rosa enrolado ao pescoço, conduzirá os paulistanos aos shoppings dos Jardins e da Zona Sul da pauliceia, com vistas ao consumo. E aí se assemelhará ao ‘esquerdista’ Lula da Silva, cuja maior obra de governo foi o endividamento do povo brasileiro, em nome da igualdade social.