Mentirólogo

© Myskiciewicz

Requalificação da proposta. Entenderam? Duvido. Ao tropeçar nessa abstração fui adiante para entender: trata-se de tapa na cara do eleitor paulistano. A expressão foi produzida e divulgada em 2 de janeiro, dia seguinte ao da posse do novo prefeito, para escapar de uma das promessas de campanha: zerar a demanda de vagas nas creches. Ao saber do número – 120 mil -, o prefeito João Dória desbastou a promessa, reduzindo-a para 66 mil.

A isso inventivamente chamou “requalificação”. A promessa, de seu lado, virou “proposta”. Nada gratuito, coisa cozida em caldeirão de marqueteiro: promessa é compromisso, faz fronteira com o sagrado; proposta ė jargão de comerciante, o freguês aceita ou deixa na prateleira.

Mas o que significa “requalificação”? Não faz sinônimo com ‘reduzir’, ‘rever’, ‘readequar’ ou qualquer outro eufemismo de plantão. Dória não irá instalar as crianças no zoológico ou em motéis – isso seria “requalificação”.

Sejamos claros, objetivos, não paguemos tributo à ofensa do marqueteiro à nossa inteligência: requalificação houve, sem dúvida. Seja da promessa de campanha, seja do eufemismo da proposta. Se requalificar significa dar outra qualidade, aquilo que João Dória prometeu – ou propôs – na campanha passa a se chamar mentira, engodo, empulhação. E se o código penal autorizasse, estelionato eleitoral. Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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