Fiu-fiu, vereadora

Um vereador – ou vereadora; não fazem diferença sexo, partido, nome de guerra ou o que seja diante da consumada irrelevância do segmento inicial da classe política. Um vereador, ou vereadora, de Curitiba, apresenta projeto de lei estabelecendo punição para o assédio sonoro às mulheres, o velho fiu-fiu de tantas cantadas falhadas. Parece que a autoria é de vereadora, pois vereador homem, mesmo da bancada GBTT (o L fica fora no contexto), jamais faria isso, seria legislar contra si mesmo.

Pois é, a vereadora quer multa para quem assedia assoviando. Longe de mim questionar a perspicácia da vereadora, afinal ela foi eleita nesta Curitiba cada vez mais universitária. Perspicácia, no caso, não tiveram os que a elegeram. Mas esses pobres coitados nunca tiveram e dificilmente virão a ter perspicácia. É da índole da democracia a vocação do cidadão para o suicídio cívico. Vejam o que os norte-americanos fizeram ao eleger Donald Trump. E para cutucar os petistas: e nós ao elegermos Dilma.

Nossa vereadora, se ler estas linhas, pode se sentir enaltecida na comparação com Trump. Então tire seu fiu-fiu da chuva, que faço a comparação entre eleitores, não entre políticos. Ops, falha minha; todos são iguais na irresponsabilidade e na estupidez. De onde a vereadora tirou a inspiração? Minha saudosa amiga Eliana Vidal, gênio do motejo, responderia, “do nariz, com graveto”. Não tenho o mesmo espírito refinado. Para mim é recalque, exemplo de livro, a frustração convertida em bandeira.

A edil nunca foi assediada pelo fiu-fiu, não sabe do valor do fiu-fiu na autoestima das mulheres. Invoco minha ex-namorada, paixão da mocidade, amiga de toda a vida, Margareth Schafranski. Sessentona sacudida, inteiraça, dois filhos e quatro netos, ela transita pela cidade sempre a pé, à procura de obras em construção, desde que lá do segundo andaime dois pedreiros, um no fiu-fiu, ambos no berro, passaram-lhe o atestado de “tesão de coroa”. Ela votou em Goura Nataraj.

Tento agora, ao final, dar o mínimo de seriedade ao projeto da vereadora. Vou tratá-la como vereadora. Como punir os infratores do fiu-fiu, como fiscalizar, como identificá-los? A Guarda Municipal – teria competência para isso? – com um batalhão de caça-assoviadores? Como recolher essa canalha para entregar o boleto da multa? Será que todos portam identidades e endereço para entrega postal da multa e para o cadastro dos assoviadores? Santa Maria Bueno, e a gente paga tanta inutilidade.

Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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