Fernando Haddad
A mulher do marqueteiro João Santana, Mônica Moura, afirmou em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral que o empresário Eike Batista quitou, por meio de caixa dois, uma dívida de R$ 5 milhões da campanha de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo, em 2012.
A afirmação foi feita no dia 24 ao ministro Herman Benjamin, que colheu depoimento do casal em Salvador no processo que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer.
A Folha teve acesso ao depoimento, que ainda está sob sigilo.
De acordo com a transcrição da fala de Mônica Moura, ela afirmou que nunca viu nem conhece Eike, mas que o pagamento foi acertado pelo então tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
Haddad foi eleito naquele ano, mas acabou não conseguindo a reeleição em 2016.
A mulher de Santana disse que sempre imaginou que a Odebrecht tinha interesses no governo ao fazer doações oficiais aos candidatos e por meio de caixa dois –que é o dinheiro por fora, não declarado à Justiça Eleitoral–, incluindo superfaturamento de obras.
Mas, no caso de Eike, não soube dizer qual seria a contrapartida pretendida pelo empresário ao quitar a dívida da campanha de Haddad.
“Eu não tinha menor noção de qual tipo de negócio eles poderiam ter que interessasse a ele pagar uma campanha do Haddad. Na verdade, ele nem sabia que estava pagando a campanha do Haddad, ele estava pagando uma dívida do PT.”
Santana foi o responsável pelo marketing das principais campanhas nacionais do PT nos últimos anos, incluindo a de Haddad, que foi a grande aposta do partido em 2012.
Mônica Moura afirmou ainda que o pagamento foi feito pelo braço direito de Eike, Flávio Godinho. E que para mascarar a real finalidade da transação, Santana elaborou para o empresário uma consultoria sobre Venezuela e Angola.
“Essa história é engraçada”, disse Mônica no depoimento. “Esse trabalho existiu, no fim das contas, porque o João fez um trabalho primoroso, modéstia a parte, é meu marido. mas eu posso falar porque é um trabalho primoroso de pesquisa e contextualização de uma empresa que o Eike queria montar na Venezuela, em Angola, ligada a petróleo, emergia e tal.”
Ela afirmou que o estudo do marido teve umas trezentas páginas. “O João tinha muito conhecimento sobre a Venezuela e sobre Angola.”
Eike estava preso em decorrência da Operação Eficiência, um dos desdobramentos da Lava Jato, mas acabou solto na semana passada por ordem do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
OUTRO LADO
A assessoria de Fernando Haddad afirmou, por meio de nota, que João Santana e Mônica Moura nunca cobraram da campanha valores que não estejam declarados à Justiça Eleitoral.
“Como reiterado anteriormente, João Santana e Mônica Moura jamais cobraram da ampanha de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo qualquer valor além do contrato cujo saldo, ao final da campanha, foi assumido pelo Partido dos Trabalhadores”, diz a nota.
“Quanto ao senhor Eike Batista, nem ele, nem nenhum de seus prepostos jamais entrou em contato com Fernando Haddad, nem com o tesoureiro da sua campanha. O ex-prefeito desconhece completamente quaisquer interesses do empresário na cidade de São Paulo.” Folha de São Paulo