Senhor Luiz Inácio. Não precisava isso de o procurador Roberson Pozzobom chamar Lula pelo nome de batismo, quando o próprio juiz Sérgio Moro se dirigia ao réu como “ex-presidente”. Se o procurador pretendia fazer ironia, fez mal, fez fraca, tanto que prontamente se corrigiu. Ironia, ainda que não intencional, fez o juiz, ao lembrar, em nome da solenidade, que o réu é ex-presidente. Um ex-presidente submetido a processo criminal com o pano de fundo da corrupção.

Ficou assim, a ironia do procurador foi chocha, até infantil, e a do juiz não foi ironia. Dá para entender. Advogados, promotores e juízes da área criminal usam a ironia como instrumento de trabalho para rebater argumentos e para atacar o caráter dos réus. Faz parte do jogo. O que nunca fez parte do jogo é um ex-presidente atolar-se tanto na lama a ponto de ser levado à barra da Justiça, exato pela corrupção. Nem Getúlio Vargas, a evocação de Lula.

Getúlio passou por ordália equivalente à de Lula: tolerante com a corrupção dos que o cercavam, embora nunca tenha sido provado que dela foi beneficiário. E aqui começam as diferenças a pontuar as semelhanças. Getúlio continua o herói do povo, daquele que conviveu com ele ou recebeu os ecos de seu carisma; Lula pretende isso, tanto que usa uma paráfrase de Getúlio: este, na carta de suicídio, dizia sair da vida para entrar na História.

Lula, entre o delusional e o megalomaníaco , afirma que já entrou na História. Do modo como falseia a realidade, pensa que pode falsear a História, que se constrói com o tempo e é vista em perspectiva, à distância. Lula, neste momento, vive um trecho de sua história, o lado negro dela, que só o tempo poderá ou não fazer com que se apague diante do que chama seu legado – no qual não inclui Mensalão, Petrolão e Corrupção.

E agui reentra Getúlio, seu paradigma, pai dos pobres como ele. Também pai dos que à sua volta se corromperam: irmão, filho, auxiliares, gente do partido. Lula não tem o senso de destino de Getúlio, que desde cedo via o suicídio como saída política e existencial. Lula faz da política sua experiência existencial de prazer e desfrute – não é sem razão que o mais pesa contra ele são o sítio e o tríplex, presentes que teria recebido em suposta corrupção.

Neste momento, sem qualquer pretensão de fazer estripulias sobre a História, resta aguardar que o tempo, pai da História, leve a termo a semelhança final entre Lula e Getúlio, o suicídio. Não que se pretenda ou se espere o suicídio de Lula, longe disso, a vida é sagrada até para seu titular. A História, em quem Lula tanto confia, poderá extrair da Lava Jato, o atestado de óbito de Lula, seu suicídio político.

Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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