Não consigo pronunciar seu nome. Não porque seja difícil, seu nome é comum, mas toda vez que te chamo parece que esqueço e procuro outro nome. Memorizo, soletro, falo em voz alta, mas nada me alivia da sensação de estranhamento.
Esse ruído transpassa os contornos imprecisos da abstração. Não é palpável, não é concreto, não é real, mas ali existe algo que sussurra, assopra, avisa. Te chamo por outro nome. Você não gosta. Repito que não vai mais acontecer. Acontece. Sinal, superstição ou naufrágio? Quem sabe. Apenas quem sobrevive aos desastres pode contar o que viu. Percebo o erro, o desconcerto, o deslocamento. Vem à tona as memórias ancestrais das palavras e o que elas carregam consigo. Como se fossem bússolas que avisassem que o mar está revolto, que o tempo muda de uma hora para outra, que há nuvens que chegam pesadas e fecham céus iluminados.
Continuo a pensar no seu nome estranho, seu nome indecifrável, seu nome miragem. Um dia vou conseguir dizê-lo no escuro, letra por letra, sem nenhuma dúvida que ele é realmente o seu nome. Mas, por enquanto, te chamo por esse nome estranho.