Beto Richa e o urro do Tarzã

Ruth Bolognese – ContraPonto

Como diria a Tati Quebra Barraco, ser poderoso é bom. Ser ex-poderoso, não. Nessa imagem recente, e de rotina no Palácio Iguaçu, a expressão de desalento do ex-governador Beto Richa diz tudo. Era mais um no grupo para acompanhar a governadora-candidata, Cida Borghetti, na entrega de recurso carimbado ao prefeito de Jacarezinho, Sérgio de Faria.

Depois de 16 anos, como bi-prefeito e bi-governador, o papel de segundo na solenidade é, claramente, desconfortável para Beto Richa. E ele tem suas razões.

Além das facilidades e mordomias que um cargo de mando concede a qualquer cidadão, a entrada triunfal no salão é um alento geladinho, que sobe pela espinha e perdura no organismo como um Revotril na hora do aperto. O frisson subsequente faz parte.

O ex-governador Mário Pereira, como catarinense que é, definia melhor o poder, lembrando a sensação inédita de se contar a mesma piada mil vezes e todo mundo rir. Doutor Ulisses Guimarães, do tempo em que vinho de Catuaba exercia, sem muita esperança, a digna função do Viagra, era mais fino e satisfatório em sua voz cavernosa: “o poder é afrodisíaco”. Detalhes divinos, autossuficientes.

Para murchar ainda mais a bola, a percepção recém-descoberta, mas em escala ascendente, de que o aliado Rafael Greca já mudou de alvo e despeja seus salamaleques habituais na ungida da hora. O celular já não toca com a frequência de antes suplicando presença nos atos oficiais da Prefeitura.

O fato é que, e a imagem não mente, Beto Richa, em segundo plano, está de farol baixo. Não podemos especular aqui se este fenômeno desanimado se estende por outras áreas da vida do ex-governador, porque isso se dá em foro íntimo e pessoal.

Beto Richa sabe, por vivência na política, que só a urna aberta, recheada de votos, pode lhe restituir o poder de fogo. E lhe dará, ato contínuo, o domínio do uso das próprias mãos – nas fotos atuais, desenxabidas, ora segurando a aba do paletó, ora cruzadas sobre o bigolin, sem convicção.

E só se for eleito, poderá socar o peito e urrar como o Rei das Selvas. Bóra caçar votos, Beto Richa!

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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