Beatriz conquistou meu coração e meu colesterol quando amarrou os cadarços do meu sapato no rabo do gato da nossa família, um felino infeliz que acabou se suicidando num sábado chuvoso, depois de passar semanas internado numa clínica veterinária da cidade. Nossos encontros, a maioria escondidos, se davam sempre na curva do rio, debaixo do pé de eucalipto, quando ambos torcíamos para que o jipe do prefeito não surgisse na estradinha lamacenta e nos desse um flagrante inevitável.
Num desses encontros Beatriz disse que desconfiava do meu amor, que eu não demonstrava uma ponta sequer de paixão, mas eu fiz que não ouvi, peguei minhas roupas e fui embora, sem olhar para trás, tornando as coisas mais difíceis ainda. Assim, Beatriz passou pela minha vida, balançando o meu coreto e devorando todos os sanduíches de nossos piqueniques.