Coluna versará, penso, sobre o Rio de Janeiro, esse manancial de piada, esse canavial de chistes
Antes que reclamem da Folha (“como é que chamaram de volta esse crápula?”), quero livrar a cara do editor. Fui eu que lhe ofereci meus serviços.
Estava com síndrome de abstinência. Achei que fosse ter uma vida mais tranquila se não escrevesse por aqui —mas acontece que continuava pensando em crônicas, só não tinha onde publicá-las. Saía falando crônicas pra desconhecidos na rua. Não prestavam atenção, mas isso não é problema. O problema é que não pagavam.
Pra ser um socialista de iPhone, é necessário comprar um iPhone. E, se não tenho um iPhone, viro um socialista de verdade. Falta, no socialista sem iPhone, alguma contradição risível, algo que o torne motivo de chacota. Um socialista de Android não tem o mesmo potencial cômico. Um socialista de fax, menos ainda.
A coluna versará, penso, sobre o Rio de Janeiro, esse manancial de piada, esse canavial de chistes, essa Foz do Iguaçu do constrangimento. Tenho pra mim que o Rio de Janeiro é o alívio cômico do Brasil. O prefeito já nomeou, duas vezes, pessoas que ele descobriu posteriormente que já tinham morrido. Não houve objeção porque qualquer cadáver, afinal, faz um trabalho melhor que os colegas.
O próprio governador, percebam, aparenta já ter morrido, mas ninguém se dá ao trabalho de avisá-lo. “Morto, pelo menos, não rouba.” Da minha parte, não tenho tanta confiança em cadáver. Especialmente do MDB. Temos na Presidência um exemplo vivo de ladrão morto.
Aqui escreverei no espaço de Ruy Castro, realizando um sonho da adolescência comunista: substituir um Castro. Ruy volta logo, pra sorte do leitor, e pra minha sorte, que gostava de ler esta coluna, e agora vou ter que parar de lê-la, já que não me interessa em nada o que o tenho a dizer. Mais que isso, minhas opiniões causam-me espécie. Ao menos isso temos em comum, caro leitor. Já é um bom começo.