Debater o quê? – A cobrança de Fernando Haddad e o negaceio de Jair Bolsonaro ao debate é uma de tantas quebras da racionalidade nesta campanha irracional. Para Haddad e petistas amestrados o debate é essencial, o imperativo de discussão ampla e profunda das propostas dos candidatos. Que o povo tem o direito de conhecer para definir seu voto.

Pelas premissas temos que Jair Bolsonaro fere um pressuposto de legitimidade do processo eleitoral, o debate. Nada mais errado. O debate não é pressuposto de legitimidade, sim uma tradição que tenta se afirmar, dado que é recente em nosso costume político e a lei eleitoral não o impõe como regra.

Os debates que temos assistido “aprofundaram” as propostas dos candidatos? Não. As propostas são falsas, ilusórias, infactíveis, demagógicas e vazias quanto a dados e fontes de financiamento. E não são apresentadas apenas nos debates; vêm na propaganda eleitoral, distribuídas nos panfletos, faixas, santinhos.

Então para que servem e a quem beneficiam os debates? No condicional: serviriam ao povo se não versassem demagogia e ilusões. Os debatem servem aos candidatos, como exercícios de telegenia, a boa presença na televisão, a presença de espírito, até o ar seguro, decidido, exalando força e poder.

Os analistas norte americanos contam que no debate entre John Kennedy e Richard Nixon, o segundo foi melhor em termos de experiência e conhecimento; mas Kennedy foi preferido pelos telespectadores porque se apresentou bem barbeado, bronzeado, relaxado, o exato contrário de Nixon.

O debate entre Haddad e Bolsonaro daria um resultado desses – com a diferença de que o primeiro mostraria melhor preparo para a presidência. Daí que não interessa a Bolsonaro, que tem em seu favor a restrição médica da convalescença do atentado (discutível, na medida em que debate sem a interlocução do adversário).

Os debates representam o respeito do candidato para com seus eleitores, numa leitura idealista e ingênua de seus propósitos. Mas são, em análise final, mera estratégia de campanha, com todas as sutilezas, espertezas e subterfúgios. O debate entre Bolsonaro e Haddad: ao primeiro não interessa e ao segundo é vital.

Benefícios desse debate talvez tivessem os indecisos. Porque os eleitores de Bolsonaro não serão convencidos de que Haddad é melhor. Nem vice-versa. Quanto aos indecisos, as indicações revelam que continuam cada vez mais indecisos. E com receio do que virá depois das eleições.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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